O raio, o tempo e eu - Doce tormento de lua cheia

Tudo era calmaria, nada tinha muita importância, o universo conspirava a meu favor.

Olhando para longe, avistei algo que tanto me encheu os olhos, um clarão seguido de fortes trovoadas, logo percebi que tratava-se de um belo raio, e que raio...

Eu não poderia deixar de me aproximar, ver bem de perto, fui avisado do risco, porem um bom escorpiano não teme e sua teimosia o faz descobrir o novo.

Era puro esplendor, magnifico, nunca avistara antes algo parecido. Decidi zelar por aquela dadiva da natureza para que nunca deixasse de brilhar, para que seus trovões fossem cada vez mais altos e que todos os cantos do mundo pudessem o perceber.

Cumpri com o prometido, fiz com que o céu se enchesse de nuvens, durante meses fiz chover, chuvas tempestivas, ventanias. Uma harmonia perfeita entre água e vento, meu coração era ternura. Acabara de descobrir o significado de afeto, o significado de amar.

Dancei junto ao raio, em meio a chuva, ao vento, uma melodia que me encantava, era como Zouk. Não havia tocado o raio, mas meu espirito já era total harmonia, sentia uma reciprocidade e ao mesmo tempo desconfiava de que algo estava errado...

Fechei os olhos, descansei, sonhei. Meu rosto esquentado com o calor do sol fez com que me despertasse de cochilo, já não haviam mais nuvens, não havia vento nem chuva e muito menos o raio. Seria impossível controlar o que senti, uma mistura de perda, desespero e ânsia de encontrar aquele enorme feixe de luz novamente. Perguntando ao sol sobre onde encontrava-se o raio, ele me respondeu:

- O tempo o chamou, encantado ele deixou-se levar, dançam juntos agarrados, valsa em alto-mar..

Sem reação... Estado de choque... Pânico... Acabara de perder tudo o que cativei, para que em questão de segundos o tempo o levasse embora.

Agora era vez das tempestades dentro de mim, através das duas janelas da alma, deixei escorregar oceanos. Agora tudo era escuridão, quando dei conta, estava a caminhar em vales sombrios, dolorosas feridas cobriam meu espirito, doce tormento de lua cheia, o seu silencio ardia meus ouvidos como navalhas quentes cortando a carne. Foi preciso descer até o inferno para provar para mim o quanto sou forte, bebi do cálice mais amargo, dormi junto aos porcos, dos olhos derramei sangue.

Por onde entrei decidi sair, sou conhecedor do caminho de volta. Num suspiro aliviado, tive a certeza de que meu passeio chegara ao fim.

Cita-se que o tempo está em sintonia com o raio e que o mar está agitado.

Guardei as lembranças, a luz que me torrava de ternura, guardei os trovões, a chuva, os fortes ventos com a certeza de que um dia o reencontrarei.

Jefferson Bezerra

Jefferson oliveira Bezerra
Enviado por Jefferson oliveira Bezerra em 13/08/2014
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