Divagando

Todos os dias eram iguais. Ou melhor, todas as noites. Eu deitava, sentia a inconsciência se aproximando devagar, de forma gostosa, o cansaço tomando conta de cada milímetro do meu corpo, os olhos fechados sentindo o doce sabor do sono, a cama confortável sob mim. Em algum momento desse ritual noturno realizado pelo meu corpo em conjunto com minha mente, eu pegava no sono e, em algum momento depois disso, as imagens coloridas e quase sempre sem nexo invadiam meu inconsciente. Eram eles, os sonhos, como são conhecidos por nós, nosso aprendizado, pensamentos, desejos e vislumbres condensados em pequenos filmes, cenas e sons, desfilando pela mente de forma que só poderíamos senti-los. E lembrar, talvez, só na manhã seguinte. Os bebês não podem contar o que viram, os adultos nem sempre querem, algumas ressacas fazem você esquecer até mesmo que sonhou, alguns fazem você querer ficar na cama por mais tempo, lutando para lembrar em que parte parou, outros te fazem querer acordar logo, alguns te arrancam suspiros e a vontade de que fossem reais, outros causam apenas medo. Mas, em geral, eles despertam aquela que é a provavelmente a maior característica do ser humano: o pensamento. Nem todo mundo lembra, nem todo mundo sabe, mas todo munda sonha, todos têm seus próprios sonhos e à noite quando dormimos, eles nos visitam e nós os visitamos, uma alternância de pontos de vista. Não era diferente pra mim, talvez apenas por um único ponto: cada pessoa visita seu próprio sonho, eu vinha visitando os sonhos dos outros.