A SAUDADE...
 
Creio que a saudade é a prova de que a vida se equilibra entre o que foi bom e, portanto, inesquecível, e a falta deste. Isso leva o ser a refletir sobre a necessidade primeira – e que lhe é a lembrança mais cara – em forma de matéria, nomeadamente, de um corpo, pois a emoção se vale do desejo para poder dizer que saudade é a falta do que já foi prazer. Porém, o mais interessante da saudade é que ela não espera ser saudade entre os que um dia se farão saudade. E é fácil perceber isso quando há os primeiros encontros e os quereres aflorados passam a registrar, em arquivos, o que um dia será lembrado como saudade. Mas, a saudade começa a ser saudade, de fato, quando há a autoconfiança de poder, de conquista, de comando. Um dos lados – o dominado – passa a querer e sentir saudade do que já foi prazeroso um dia e, isso, faz com que a sua saudade comece a dar adeus e a exigir sua partida para o passado das lembranças, antecipando a partida da outra saudade – que, de tão absoluta não percebe a partida de sua parceira – e se esquece de que regar, abastecer, cultivar e cuidar são verbos utilizados, conjuntamente, com os verbos dividir, trocar, renunciar, confessar, perdoar e amar.




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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 10/08/2014
Reeditado em 10/08/2014
Código do texto: T4917027
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