Bad Karma
Pensei sobre um principio que parece ser universal, a maioria das pessoas acreditam piamente nesse axioma. Alguém que lhe faz mal, ou causa o mal de maneira geral, será punido em algum futuro, distante ou próximo. E alguém que lhe fazer bem ou faz o bem geral será recompensado. Karma, para os mais chegados. Se você parar pra pensar bem, faz sentido nós vivermos em uma sociedade onde esse quesito é extremamente forte e, digo mais, válido. Veja bem, somos muito mais inclinados a acreditar do que o homem é o lobo do homem do que a visão roussiana romantizada de que o homem é um ser puro e que a sociedade o corrompe. É necessárias amarras, mordaças para controlar a ânsia de possuir, de ter, de poder do ser humano, para que todos possam, tenha e compactuem com um certo nível de poder, mantando assim o equilíbrio. Para isso nós temos o estado absolutista, o Leviatã de Hobbes, ou o estado moderno que temos hoje. Mas porque nós acreditamos que essa regra funciona?
Simplesmente porque queremos acreditar. Queremos que aquele ladrão que nos roubou seja preso, que aquela pessoa que nos machucou sofra, espie os seus pecados até que nós achemos o suficiente, o que geralmente é nunca. Para que nós tenhamos uma certa ideia de que isto acontecerá, nós temos os ditames da lei e a nossa superstição em algo a mais que rege nossas vidas, seja religião ou simplesmente acreditar por acreditar. Então, ao consolarmos uma pessoa triste dizendo que quem deixou ela assim vai ter o dobro, estamos na verdade afirmando e reforçando o nosso contrato de viver em sociedade, de que os ruins serão punidos e os bons serão recompensados. Acreditando nisso, é apenas um passo para que seja verdade. Quando de fato o mal feitor é preso ou punido, então nosso cérebro confirma a nossa “teoria”. Isto é um artificio psicológico que nós humanos temos, chamado de viés da confirmação. Mas nós sabemos que nem sempre é assim. Até porque é impossível alguém passar a vida toda se dando bem, alguma hora ela vai meter a cara na parede. Quem vê Guerra dos Tronos sabe bem.
Mas, por um instante, vamos suspender nossas descrenças. Vamos imaginar que vivemos em um mundo que nossas ações serão avaliadas por forças universais e ponderadas para receber punições ou recompensas, como em horoscopo, reencarnação, budismo e espiritismo. Como dizia um professor meu, uma pessoa que não gostava de poesia, retornava como poeta na vida seguinte, para poder suprir as lacunas e ser de alguma forma “punido”. Ora, claro, poesia é algo tão belo, como assim não se pode gostar?
Dizia ele também que, pessoas de má índole muitas vezes voltava como mosquito, apenas para tentar se alimentar de sangue e ser esmagadas. Ou seja, voltava em uma posição em que não era mais o causador do mal estar, mas sim o mal tratado. Então eu fiquei pensando, de todas essas pessoas que cometem pequenos e grandes erros, como furar a fila, cortar alguém no transito, falar alto, ser intrusivo, não há nenhuma que não iria se salvar da fúria do destino. Todas seriam passadas a caneta no bloco de notas do Cosmos. Fiquei pensando também nas outras que já foram. Sei lá, aquela formiga que a criança está queimando podia ser o Josef Mengele, a barata que se mata por nojo e higiene podia ser um dos guerreiros de Gengis Khan. A alface que eu comi podia ser um dos judeus que apoiam o extermínio palestino e a carne que a acompanhou um muçulmano do RAMAS.
Ainda tem aqueles casos instantâneos, como motoqueiros que vão chutar retrovisores de carros e caem. Ou ladrões que vão ser assaltados e são pegos, torturados, linchados.
Então, da próxima vez que formos destratar uma pessoa pelo motivo que for, imaginemos, e se? Nunca se sabe se vamos ser a alface dela na próxima vida.
Bad Karma, compadre.