Não corra tanto
O verso do universo
É um vilarejo sem tempo
Em que não há hora: só momentos
É a morada dos versos de amor total
Em uníssono ecoa: verso universal
Cartas de amor espalhadas
no quarto pelo vendaval
Quem deixou a janela aberta?
Quem te disse para pegar o metrô?
Não te disseram, minha amiga
Que a pressa é inimiga da paisagem
Logo a paisagem que é tão vital
Verso universal:
'Te amo'
Já é quase uma lenda urbana
Um senso-comum
Digo 'te amo' porque um dia me disseram
Que quando um desejo afoga o peito
É o amor que invade, lento...
'Te amo' já é coloquial,
Já é assim como dizer 'bom dia'
O mesmo 'bom dia' que esqueceu de me dizer
Passou tão depressa, nem perguntou que música é essa
Que vem ouvindo sem parar
eu digo:
É a ressonância de meu verso universal
Pare por um instante, minha amiga
Feche a janela, não deixe o vento espalhar o amor
Respire fundo, vá de bicicleta, esqueça o metrô
Ande vagarosamente
Deixe que os versos a alimente
Note que na paisagem enxerga-se o som
(Em uníssono cantamos o verso mais vital)
Pare um pouco, minha amiga, sinta a simplicidade da vida
Olhe as roupas secarem no varal
Não faça com que o tempo corra
Nem com que a tarde morra sem ver o Sol
Não desenvolva em seu peito inquieto
A impressão de que irá cair o teto
Não corra tanto, meu amor!
Pare um pouco, respire, me dê a mão.
Não corra tanto, meu amor.