INÚTIL



 
          Quando penso em você (isso é quase todo o tempo) e me dou conta de como o hoje se tornou, doloroso, mesmo patético e quase trágico, em quase todas as coisas, sinto a minha vida como algo quase perfeitamente inútil. Quase... quase... quase... quase... Lembra-me o poema de Mário de Sá-Carneiro: "Um pouco mais de sol, eu era brasa./ Um pouco mais de azul, eu era além."/ (...).
     Para atenuar o possível dessa mais do que dantesca sensação, procuro me lembrar de que eu te dei, ao longo da "nossa" já tão longa "vida", um dos temas mais fundos da tua excelsa e tantas vezes terrível Poesia. Esse fato, talvez nosso verdadeiro único real e meu quase derradeiro conforto você, mergulhado sempre em sua Angústia e cada vez mais fundo Desconcerto de existir, não reconhece... não reconhece... Como poderia, então e ainda, reconhecer-me a mim? Como o poderia? Esquecida fui, e deveras, e completamente. Não há como duvidar. Não há, mesmo, como duvidar.