Sobre o "Eu" de Augusto dos Anjos
Nenhum poeta jamais foi tão contraditoriamente egocêntrico. Trabalho de uma vida inteira, condensado num único maço de páginas recobertas de enigmas intrigantes, horripilantes, perturbadores, como um inferno pessoal, um intrincado labirinto do qual é muito fácil nunca mais encontrar a saída. O título do volume, "Eu", em si já diz tudo sobre a inusitada intenção do autor: associar-se àquilo que produziu, incluindo-se, e consequentemente perdendo-se, no interior de sua própria obra. Mas em se tratando de uma poesia tão perfeita em seu lúcido diálogo com a horrenda insalubridade da existência, qualquer amálgama entre produtor e produto se vê revertido em imortalidade para ambos. Um livro para ser lido em maternidades, manicômios, escritórios e ossuários.