Do Ato de Escrever
Me pego de novo debruçado sobre a mesa, a caneta em punho. Óculos ajeitados na ponta do nariz e o ar gélido circundando ao meu redor. Olho as estantes empoeiradas abarrotadas de livros que me encaram com aquele ar acusador e a pouca luz que entra pela janela parece estar de má vontade. Abro a gaveta onde se encontram folhas de papel em branco, já amareladas pelo tempo em que estive fora. É aí que puxo uma delas como se fosse a próxima vítima de um assassinato e a coloco sobre a mesa. Nos encaramos por um instante, em um confronto interno onde meus pensamentos viajam em carruagens de flashback, sons de sorrisos sinceros, o movimento da água sob meus pés, o frescor de florestas e no meio de tudo isto o teu olhar. Uma lágrima rola pelo meu rosto e começo a escrever. O que pode sair dali? Algumas linhas, um desabafo ou a mais linda história de amor? Não sei, só sei que escrevo com o coração e a caneta em contato com o papel é a única posição de guerra que conheço.