O SEGREDO

Certa vez, por e-mail, um amigo me disse: “Há quem tenha um admirável talento para criar heterônimos, personagens, perfis. Gente assim lê e admira muito Fernando Pessoa, que foi um exímio criador de heterônimos”.

O e-mail desse meu amigo continua: “Nos dias atuais, principalmente, há quem tenha uma ótima oportunidade para criar personagens, visto que há muitos sites dos quais podemos participar e mostrar diferentes faces ou aspectos de nós mesmos. Podemos ser, em um mesmo site, várias pessoas. Isso é muito importante”.

Esse meu amigo continuou: “No entanto, devemos ter muito cuidado! Explico-me”, disse ele: ”Cada personagem deve manter características únicas, próprias, para não se confundir com outro (s) heterônimo (s). Há palavras ou frases que são carregadas de sentimento, de emoção. Sendo assim, se um heterônimo comentar determinadas obras de um escritor que falam sobre amor, por exemplo, esse heterônimo correrá o risco de deixar, nesses comentários, os sentimentos ou emoções de outro personagem criado pela mesma pessoa que criou o heterônimo que comenta essas obras de amor. O segredo da boa criação de heterônimos ou personagens é: o criador de cada perfil não deve se envolver emocionalmente, o que é uma tarefa muito difícil. Do contrário, um escritor que se dedica muito ao conhecimento dos seres humanos, através da leitura e estudo de textos de psicologia e da experiência humana, poderá identificar o criador de certos heterônimos ou personagens com muita facilidade, sendo que o criador de personagens, em certos casos, por algum tempo, não deseja se identificar”.

Esse foi um e-mail que eu recebi através do meu contato disponível no Recanto das Letras.

Eu, Domingos Ivan Barbosa, como sinal de respeito e admiração por esse amigo, cujo nome não posso mencionar, por motivos éticos, respondi: Concordo com o seu pensamento, caríssimo amigo, apesar de seu e-mail apresentar um conteúdo discutível, assim como tudo o que é humano. Eu, porém, prefiro não criar heterônimos, mas, às vezes, apenas alguns recursos (como fazia Sócrates) sobre os quais depois poderei falar. Ora, o homem, como diz a psicologia atual (que o amigo mesmo cita no e-mail), é multifacetado, ou seja, apresenta muitas faces, muitos aspectos, ainda que todas essas faces ou aspectos concorram para o bem.

Continuei: eu prefiro mostrar-me como sou: poeta, escritor, pensador, homem religioso, professor. Há obras minhas que mostram apenas um desses homens que eu sou. Outras mostram mais de um, mesmo que eu seja apenas um com alguns talentos. Há outras obras que estão de acordo com tudo o que eu sou. Eu prefiro, pois, não criar heterônimos porque, indiscutivelmente, os meus heterônimos teriam a minha marca e os meus sentimentos. Vejo que é impossível a um autor ou autora de heterônimos deixar de colocar suas marcas naquilo que escreve.

Obs.: É como professor que eu compartilho esse e-mail de um amigo e a minha resposta ao amigo que o escreveu. Espero ajudar, com essas informações, a quem exerce a brilhante arte de criar heterônimos, personagens ou perfis. Essa arte é reveladora de um talento raro. Eu não estou falando de falsos perfis do Facebook, mas de heterônimos.

Obs.: Não confunda heterônimo com pseudônimo. Depois, como professor (novamente) poderei explicar as diferenças entre heterônimo e pseudônimo.

Um abraço cordial!

P.S.: Que segredo alguém pensou que fosse? Eu não tenho esse tipo de segredo. Se o tivesse, não o revelaria. Revelar seria uma demonstração de mau caráter e mau-caráter (rs).

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 09/07/2014
Reeditado em 09/07/2014
Código do texto: T4875288
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