Do trágico à alegria
Quão inimaginável é o trágico essencial em nossas vidas: um apelo egrégio das profundezas que pode ser confundido facilmente com o senso de fatalidade, aquele que percorre os destinos, trançando-os às qualidades inerentes do Acaso. Todavia, identificando-se com os repositórios salutares, úteis, portanto, à unidade do ser, pode a tragédia fornecer subsídios importantes para uma valoração pessoal, enriquecendo o modo como encaramos os fatos correspondentes da vida.
Direi, porém, que, quando integrado os processos trágicos, tornando-os ordinários e eficazes na organização humana, tem início então a elaboração de uma caminhada cíclica que, no entanto, destitui de seus fins os obstáculos prementes que porventura aparecem nessa jornada. Efetivamente, o “tapete das renúncias”, como é conhecido em alguns enredos mitológicos, serve justamente como uma jornada de negações: primeiro, e principalmente, a si mesmo, transformando o ser numa unidade cósmica, depois a natureza nociva que há no mal – porque convivê-lo é essencial, e não apenas negá-lo –, chegando, finalmente, ao deslizamento do ser sobre um caminho de evoluções pacíficas e efetivas.
Enquanto valorizamos as notórias capacidades que temos de nos restaurar, e escoar as variáveis negativas para o centro dos interesses específicos, a que tudo cuida e converge em antídoto, a exploração interna é um elemento de enorme apaziguamento e prova de organicidade que aquela “tragédia essencial”, antes incurável, então agora se revela como uma necessidade alarmante e imponderável.
Surge, enfim, a alegria como meta conquistada, merecida, justa. Não é alegria passageira e instável, de natureza eufórica e efêmera, mas espécie de ponto de apoio íntimo, a pedra angular do ser, que regula com capacidade surpreendente a natureza do homem, em sua caminhada de auto-aceitação e crescimento pessoal.