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Falaram-me um dia que o sofrimento só é bonito em poesia.

Há dias em que o fardo interrogatório dentro de si torna-se suportável, uma vez que possamos regurgitar um simples verso em qualquer pedaço de folha. Há dias que o despertar não cativa, o café só esfria e o que nos resta é ficar olhando pra cima implorando pelo brilho do luar. Há dias em que não há ensejo, nem sossego. Aí se encontra a culpa. Culpa guardada, sem motivo e nem causa. Culpa que só o silêncio sabe falar. São os versos. Aqueles de letra grande, redonda, como na época do primário quando a tia falava pr’eu riscar uma folha com todas as vogais. Quem ouve é a poesia. Aquela meio batida e que, às vezes, é sem graça. Escrita em um papel A4, em guardanapo ou em um tecido falhado. Falo da poesia arranjada, aquela que grita quando o corpo se cala; trancada, que vira água em meio ao concreto. Falam que o sofrimento e a dor são mais bonitos em poesia. Ninguém mentiu. Saudade é dor, e confesso ter escrito sobre tal. Saudade de cheiro de avó, de infância, da hora do recreio (…) saudade. Estalo no peito da sensação de perder um ente para a eternidade. Isso sim, dói. E acho bonito. Acho bonita a forma que a poesia atua nesses momentos. Eu, por exemplo, todo dia treze transformo minha dor em poesia. É como se eu pudesse eternizar a luz que a Maria tinha. Maria foi (e é), uma das poetisas mais incríveis que eu pude conviver. E o meu poetar se alegra quando consigo transformar a minha dor incurável de saudade na poesia. Transformar. Talvez seja isso. Recriar algum tipo de sofrimento doloroso, em versos.

O sofrimento, para mim, é bonito em poesia.

Laryssa Andrade
Enviado por Laryssa Andrade em 27/06/2014
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