GENOMA DE MÃE
Soaroir 13/5/07
Na instintiva busca pela evolução da espécie a Natureza dotou as mães com um sistema de rastreamento para a melhoria do ADN que pai algum foi agraciado. Nesta peneira o amor poetizado, cantado e recantado conta muito pouco nesta hora. Os bons reprodutores nos atraem. Quando não levado a sério, nos voltamos para culpar as mães pela falta de instinto em reproduzir carrascos e tantas outras porcarias que o mundo tem que conviver com.
Se postas num microscópico, viríamos o gene “mãe” se multiplicando, desencadeando reações específicas para preservar, melhorar esta raça, não para seu deleite, mas para um mundo melhor, e preservação da espécie.
Não é que eu tenha sido filha de chocadeira, tampouco de proveta, que naqueles idos estava só na pesquisa. Claro que fui parida, fato não muito normal, como ouvi de minha mãe. Algumas horas presa entre o ombro e a cabeça já deviam ser um presságio de que alguma séria fortuna me aguardava aqui fora. Felizmente não sofri, aparentemente, de (cianose) falta de oxigenação no cérebro, embora acredite que algum efeito aquela complicada aparição neste mundo deva ter me causado. Provavelmente eu já pressentia que a coisa por aqui não seria só para me rir.
Num tempo em que mãe era profissão, ficar viúva com uma filha de sete e outra de quatro anos era tarefa para heroína. Lá, amor vinha muito tempo depois de se aplacar a fome e o frio. Educação principal era lavagem cerebral nos miolos; mulher, pobre e sem pai tem que ser mais cuidadosa do que as outras meninas. Assim o tempo passou e registrado no meu ADN ficou que ser mulher era uma droga, sem pai era um fracasso, sem dinheiro então, era uma titica.
Tudo estava certíssimo, não fosse o desprezo que desenvolvi por pobres, de espírito principalmente. Não me tornei lésbica, muito pelo contrário, mas na tentativa de suplantar ausências, para mim havia dois tipos de homem: deus ou diabo. Não conheci meio termo. Casei-me três vezes e dispensei todos os mancebos por não entender de diabos; eu assumi educar os meus filhos, o que de acordo com os resultados não me arrependo. Houve inconvenientes, (claro que sim) especialmente junto à catequese social.
Resumindo, acredito que não viemos a este mundo sem um propósito, fora abortos, pari dois excelentes filhos Bernardo e Artur, que me soldaram uma outra lente de como ver o mundo. Aprendi inclusive a entender a falta de uma mão no rosto e a me perdoar quando não soube oferecer um último adeus.
Substituo a falta de mãe pelo esmero de ser melhor a cada dia, embora tal confirmação eu também não terei em vida. No entanto, ao voltar o olhar para esta estrada já percorrida, me orgulho da mãe que tive e que não está mais aqui para me ouvir dizer que agradeço sua sábia e simples lição, sem a qual eu não teria conseguido forjar dois grandes homens, cientistas que são, e que com certeza também cumprirão sua missão para fazer deste mundo um melhor lugar.
Benedita mãe!
(Sem revisão)
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