AMADA?*

NA MANHÃ DE 25 DE JUNHO DE 2014

Amada por um homem? Agora sei que nunca, jamais o fui, por nenhum - falo de pouquíssimos homens, ninguém se assuste. Até acreditaram que me amaram, eu o sei, sei que há mesmo quem me creia ter amado para além do seu possível.

Terríveis, espantosos autoenganos.

Sei que todo amor tem muito de Narciso e muito de espelhos, mas, amor, quando só Narciso e espelhos, (Narciso se quer imutável, em imutáveis espelhos) deixa de ser, de existir, com as inevitáveis devastações do tempo. E, se deixa de ser, é porque nunca chegou a ser. Também eu vivi isso e muito, e demais, romântica desvairada que também sou. Mas, meu próprio amor, para viver, precisou mudar ao longo dos tempos e de suas adversidades; precisou mudar, para não morrer.

O único homem que me amou talvez tenha sido aquele que nunca creu ter-me amado como se tem por hábito dizer disso que costumamos chamar amor: o homem que foi meu companheiro efetivo nesta vida e de quem eu parti para... para isso que acabou por se tornar a vida... (Não falo de minha mãe: mãe é sacro dever, seja como for, tem que sempre ser.)

Amada? Agora sei que nunca, jamais o fui. Ou melhor, foram muito amadas imagens de mim... miragens de mim...

Amada... Por que esperaria vir ainda a sê-lo por alguém? Que qualquer esperança de sonho a vir se mantenha selado, agora e sempre. Ai, valei-me, Poderes do Alto; tirai-me de vez qualquer ilusão de ainda algum sonho a vir. É tarde, que o coração...

Tento escrever, com a Razão, para escapar, o possível, da loucura absoluta; não mais escrevo para o Saber. Sou ninguém para ter direito verdadeiro a algum Saber...

Que faço das minhas fidelidades, que não morrem nunca? Que faço de lealdades outras... lealdade a rivais, por exemplo, lealdade que elas jamais poderão compreender... Que faço eu delas, de tais fidelidades? Não sei abdicar delas, de nenhumas. Sou assim, que triste deserto sou... deserto incompreensível... Haverá quem possa, realmente, compreender algo dessa espécie de escrita e de pessoa? Bem o quisera haja alguém que possa chegar perto das coisas obrigatoriamente enigmáticas que costumo escrever. Enigmáticas, por força, por imperativo do(s) destino)s) que me coube (que me couberam).

Escrevo e publico para não enlouquecer, e para me partilhar ainda, o possível de partilha, com pessoas... Para sentir que ainda existo no mundo... Não escrevo para fazer ninguém sofrer com meus pensamentos: eu o juro perante o Deus.

Dos "íntimos" não posso esperar compreensão nem aceitação quaisquer. Não o posso, eu o sei. Por isso essa SOLIDÃO sem parâmetros e sem fim e sem resgate nenhuns no chamado mundo "real".

Abençoado Recanto, que ainda me permite sentir que existo... o possível de me sentir existindo. Abençoado Recanto. Que me possa continuar existindo, tu, Recanto. Amém.

Senhor Deus, Protegei, com vosso Manto, todos e cada um, no Recanto e fora do Recanto, de qualquer sofrimento que meus "desabafos" possam causar. Protegei, Senhor, a todos e a cada um.

E lembrando Vinícius "Se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim." - Creio sejam estas as palavras do poema, ou o espírito delas.

* Parece que urge colocar um adendo: Não me refiro, evidentemente, aos homens do Recanto. Não mesmo. Tampouco me refiro às mulheres do Recanto e de fora do Recanto: as mulheres, em sua absoluta maioria, no Recanto e fora dele, têm sido meus anjos da guarda. Em sua absoluta maioria.