Silêncio das horas.
Escravizo-me à poesia como do amor sou prisioneiro. Infinitos são meus dias, ainda que tenebrosas algumas noites. No amor ainda creio, e por ele sobrevivo, sobrevivo a cada manhã que da noite se fez atormentada.
E no sorriso cético da solidão acorrentada, faço do caos a companhia, amante do silêncio das horas. Não me calo ou me curvo ao medo da aparência tétrica da ausência. Antes, faço dela cabedal de minhas conquistas, de minhas vitórias.
Venço dia-após-dia uma hora a mais, um instante além, onde o direito ao silêncio se faz prisioneiro do mundo, tolo e oco mundo vazio, ausente de si mesmo.