Eu continuo dizendo...
Eu continuo dizendo a mim mesma, todos os dias, ao me jogar na cama já bem tarde, de madrugada, consumida pelo cansaço: “Não pare. Não pare... Continue em movimento. Apenas não pare.”. Algumas noites durmo sete horas mal dormidas, interrompidas pelas sensações dos sonhos ou por sons, ou por nada, apenas interrompidas; outras, durmo três horas como um morto que não quer mesmo voltar à vida. Não sei o que é pior: dormir mal ou dormir pouco – creio que nenhum dos dois, o pior mesmo é não dormir e não dormir e não dormir; apenas rolar na cama pra lá e pra cá, ou ficar estática, porém com os pensamentos em movimento contínuo, sem pausas. Quando eu me peço para não parar, continuar em movimento, digo apenas para o meu corpo, não para a minha mente; mas, não sei que diabos acontece, que muitas vezes ela não para – minha mente não me entende. Meu corpo falece, enquanto a minha mente ganha vida. Isso é terrível. E eu continuo me dizendo “Você não pode parar de fazer as coisas.”, “Dê conta de tudo.”, “Faça o que aparecer... use o seu tempo!!!”, “etc”, “etc”, “etc.”. Eu sempre tenho a impressão, ou a certeza plena de que, se eu parar, eu nunca irei parar de cair e cair na mais profunda e inerte solidão. Por isso, eu não posso parar. Por isso, eu tenho feito mil coisas. Por isso, eu tenho me desgastado. E, por mais que eu esteja cansada, por mais que eu esteja esgotada, se eu parar, eu sei que irei delongar na inércia o suficiente para não dormir e não dormir e não dormir, até... Não sei... Enlouquecer? Talvez. Talvez. E por esse ‘talvez’ é que eu não paro – “talvezes” são terríveis, carcomem a gente. E por serem “talvezes” é que podem ser o ruim, o provável, o óbvio e inegável; que podem ser o concreto, o incerto que virá a ser depois; que podem ser o que a gente jamais quer que seja... São “talvezes” – embora muitas vezes sejam tão absurdamente certos. E por eu estar tão certa deste talvez é que eu não paro, é que eu continuo, com mente e corpo cansados, buscando algo para me satisfazer e me (re)confortar, em meio a um mundo de coisas que no fim pouco me satisfazem e menos ainda me confortam. Eu me perco facilmente na busca incessante de me manter sã. Então eu não posso me perder, eu não posso mais buscar, apenas devo permanecer neste fluxo em que estou. E assim vou permanecendo, em movimento, fazendo o que posso com o meu tempo... Apenas vou, e não paro.