Doce escritor
Se possível eu passaria eternidades desgastando meus dedos; escrevendo e soluçando palavras fora de ordem; derramando sobre papel a tinta da caneta, formando as incríveis e ordinárias escritas.
Se possível eu me tornaria papel, para provar da cor dos textos, do sabor das dores, dos amargos amores que poetas compartilham.
Ser rabisco fiel, diário disfarçado e resultado cruel das mãos tremulas que me traçam de ponta à outra.
Eu seria objeto de caça para inspiração, ou seria o vazio logo preenchido pelo coração.
Doce escritor
Não é sempre que tenho a incrível chance de te dizer, maldito, o ódio que contemplo dia e noite marcado em meu corpo. Posso ver tatuado, folha por folha, linha por linha a tua história. Posso sentir o queimar da ponta rasgando e marcando as próximas paginas...
Não é todos os dias que o tempo me estende a mão para dizer-lhe o quão ridículo é teu papel neste miserável mundo. Só estou dizendo tudo que já sabe. Só estou lembrando o que um dia descreveu. Em forma de poesia, em forma de argumento desnecessário, de contos...
Gostaria de pedir um pequeno favor, pelo teu bem, pelo meu bem, pelo bem dos leitores
Se jogue à cova que um dia cavou, com o decorrer do tempo, com o vazar de areia das ampulhetas, com o escorregar de ponteiros.
E de uma vez por todas
Termine a poesia que não começou