Elogio ao amor vagabundo..
Saudemos aqueles que amam demais.
Que se desperdiçam pelas esquinas transpirando paixão.
São nobres os que não fazem contas na hora de amar.
Que não puxam o extrato para verificar o saldo e saber se mais amou ou se mais foi amado. Se mais recebeu ou se mais foi doado.
Bem aventurados os despudorados.
Aqueles que exibem seus corpos deliciosamente. Que não escondem a pele, a barriga, os pelos, as marcas colecionadas ao longo da vida.
Que não sentem vergonha de tudo aquilo que nos torna humanos.
Parabéns aos otimistas. Os generosos que enxergam o melhor na natureza do outro. Aqueles que miram o charme ao invés do defeito.
Saudações aos que desprezam a soberba. Que não se crêem os mais belos dos belos. Os que não estão com o copo totalmente cheio. Que não perdem a capacidade de regozijar por alguém que habita além de seu espelho.
Graças aos desmoralizados. Aos que queimam na inquisição social por não aceitarem o controle, o pragmatismo, a moral e as normas de conduta.
Felicitações aos fodidos de tanta paixão.
Que se abrem feito mala velha e se arriscam em nome do amor, já que há tempos prevalece a ferrugem nos sorrisos e nem os santos tem ao certo a medida da maldade.
Dedico um cálice de saliva aos que não se perdem em nojos tolos. Aos que não precisam de perfumes nem cremes.
Aqueles que suam. Os que olham no fundo dos olhos e vão no fundo do corpo, no fundo da alma e transbordam.
No mundo da auto-ajuda, premiemos aqueles que se ajudam mutuamente.
Na era do consumismo, felizes daqueles que preferem as pessoas às mercadorias, ainda que homens e mulheres não tenham garantia contra defeitos originais.
Se acaso for verdade que chegamos ao fim da história, preservemos os seres humanos que ainda mantém um acréscimo de desejo e se renovam em novas e velhas histórias de amor.