Hiatus

Pessoas cobram coisas de você o tempo todo. Um sinal de afeto, compaixão, solidariedade, indiferença... Não importa a origem da comporta de sentimentos, desde que você os pague. O pagamento do ódio, é o ódio recíproco. Ódio gratuito. Ódio pré-conceituoso. Ódio pós-conceituoso. Uma receita simples, desde que você siga todas as dosagens na medida certa. Mas então eu me pergunto, qual o pagamento do amor incondicional para um ser humano orgulhoso? Completo, terrível, terrivelmente orgulhoso para não compartilhar de um sentimento tão puro, e inocente e — Que inferno! — tão comprometedor. E isso acaba se tornando a esmola que um mendigo faminto de amor, de carência, de frio e afeto humildemente requisita ao orgulhoso que passa pela calçada e franze os olhos. Para o indiferente, que olha e vai embora sem se comover. Para o ignorante, que prefere não ter o conhecimento daquele hiato entre dar e receber, para não criar vínculos. E agora, deitada sob o travesseiro e ninada sob colchas macias e quentes, penso que sou um ser humano horrível. Horrível, horrivelmente egoísta. Porque sei que entre um 'eu te amo' e um 'eu não sinto o mesmo', eu prefiro permanecer na imensidão vasta, ampla e confusa deste grande hiato chamado silêncio.