Retrospecto
 
   No ano de 1981, na Av. Bento Simão, fechou os olhos  para as coisas terrenas, o meu pai. Cumpre-me lembrar, para quem não o conheceu.que a sua visão jamais esteve voltada para este mundo. Recebeu ele, nos idos de 1948, o prêmio maior da Loteria Federal. De posse desta quantia expressiva, a qual conduziu-lhe a sorte, nenhum pensamento egoísta ou egocêntrico, conseguiu seduzir-lhe. Distribuiu entre os pobres e os seus amigos, com mesma tranquilidade, o dinheiro que lhe viera as mãos. Mãos que estiveram, em vida sempre abertas para acolhecer o seu semelhante – o outro – este outro tão esquecido e idigente de tudo.
   Nessa época (1981), no Bairro São Bento, onde hoje se encontra edificada a Igreja, existia uma cruz. Recordem os mais antigos do Bairro. Falecido no São Bento, foi a sua alma encomendada a Deus por mãos sacerdotais. Nosso Bairro era, ainda, uma esperança cristã.
   O primeiro "sopro", como disse Cônego Terra (Reza e Trabalha de abril) partiu do Padre Danilo Mamede de Campos Rodrigues. Aqui esteve e acumulou diversas e onerosas funções. Encontravámos então, Pe. Danilo Pároco de N.Senhora Mãe da Igreja, que funcionava na capela do Colégio Pitágoras. Os cutos religiosos de São Bento realizavam-se na Escola Santo Tomáz de Aquino, cedida gentilmente.
   Em 1984, nossos passos foram guiados ao Bairro São Bento. Na Rua Cônsulto Robert Levy, adquirimos a nossa casa. Meus filhos eram ainda bem pequenos. Fizeram amigos. Fizemos amigos. Pouco a pouco, fomos integrados, e passamos a conviver com nossos amigos e viver, de fato, no Bairro.
   No dia 20 de julho de 1985, minha mão completou 80 anos de idade. Tivemos a felicidade inesquecível de, neste dia, podermos contar com a presença, em nossa casa, de Pe. Danilo. 
   A Santa Missa de Ação de Graças pelos 80 anos de minha mãe ficaram gravadas em nossos corações de filhos e família. Nas palavras ternas, transbordantes de vida e de acolhimento, inspiradas e comoventes, soube Pe. Danilo, com a sua presença  e eloquência, abençoar minha mãe, celebrando em nossa casa, a Santa Missa.
   Entre os  amigos caaros ao meus coração, gostaria, também, de me referir à Irmão Maria Vitória – O.S.B. O espaço a mim cedido para escrever no REZA E TRABALHA, onde estive durante quase todos os meses de 1991, me foi oferecido por ela, e teve o incentivo permanente dela, com aquiescência do Monsenhor Geraldo. Ocupei-o com muita honra e responsabilidade. 
   Irmã Vitória, que só-sabe-ser-amor, talvez encontrou aqui na Paróquia São Bento um pouco de paz. Sua vida de religiosa, acostumada às grandes lutas, percorreu os mais distantes lugares. Em todos eles, no Brasil como no exterior, deve ter deixado, com o cinzel do seu amor, não tenho dúvida, a marca do Cristo, gravada nos corações humanos. Não foi fácil para ela, pois o entalhe dessa marca era feito, muitas vezes, às escondidas, sob olhares vigilantes de regime ateu e anti-cristão.
   Dias atrás, na Igreja. N.Senhora Mãe da Igreja, comoveu-me as orações e bençãos do Pe. Danilo. Pude sentir, naquele momento, a carência humana, que conhece que a nossa vida nada mais é do que um instante fugidío, que se sabe (alguns) pequeno, medíocre, sublime, um gigante criado por Deus, que se perpetua de todas as formas. 
   Pude sentir, também, naquele momento, que existem muitos fazendo tão pouco, ao passo que, poucos estão fazendo muito.
   
                                            Roberto Gonçalves