Devaneios de um solipsista
Nebulosa vida misteriosa, senhora das loucuras mais profundas, lança-me nas crípticas mais absconsas dos labirintos do mistério infindo, perturbando-me os sentimentos e liquefazendo minha razão, transmutando tudo à minha volta em delírios lúcidos de uma loucura solipsista. Vejo pessoas que vagam errante em corpos malsão, são imagens sem sentimentos, sinopses de um roteiro, são bonecos de marionetes salmodiando a idiossincrasia dos meus sentimentos. O tormento infindo de angustia por não saber o que é a loucura ou realidade contorce minhas vísceras na convulsão do vômito famulento, e a nevrose fúnebre dos meus pensamentos faz-me nausear, refletindo no mundo o amargor de mim mesmo.
Em meus hábitos notívagos, vago por matas de treva funda, de silêncio incisivo, sardônico, ouvindo a natureza murmurar incognoscível o pranto dos seres da escuridão. Assombra-me as sombras da observação, pois através de meus sentidos lânguidos eu assisto a natureza como reflexo de minha percepção, e quando a cobra peçonhenta estala o guiso ao atacar o descuidado rato, na mais profunda idiossincrasia, na mais perfeita sincronia, mergulho na estrutura biológica e vejo-me dos olhos da encurralada presa, sentindo toda ansiedade e desespero ao sentir a vida ser devorada pela peçonha ao mesmo tempo que sinto a sacies do predador. Assusta-me esses devaneios medonhos, de loucura e unicidade, que me envolve em epifanias profundas onde sou o único ser vivente.
Sinto a loucura penetrar-me até as moléculas, delírio existencial que me persegue da consciência ao átomo absconso, talvez seja essa a sina dos desesperados pelo profundo conhecimento.