A Cidade dos Casulos
Desculpe, não quero lhe incomodar, mas sei pouco daqui, poderia me ajudar...
Há tantas pessoas por aqui, mas nenhum rosto me é familiar...
Estou aqui há pouco tempo, mas uma estranha sensação de já ter visto isso me passa a mente agora...
Não sei o que me trouxe aqui, se meus pés ou meus pensamentos, mas aqui estou, assim como você, de alguma maneira de alguma forma...
Queria saber por que tantos rótulos diferentes se as atitudes são tão parecidas...
Queria saber por que tantas maneiras de falar, se a única coisa que importa é ser ouvido...
Por que tantos erguem um pilar diante de outras faces se por dentro tudo esta a desmoronar?...
Parecer é importante, mas não mais do que ser, é a diferença entre a máscara e o rosto, do brilho da lua, para o brilho do sol
Por que tanto cuidado com a fachada e nenhum com o interior?...
É então mais importante parecer do que realmente ser? Estou confuso...
Porque me sinto assim, e tudo que consigo é assim ser, este sou eu, este que veste este rosto nesta oportunidade...
Gostariam de ver ao menos uma vez todos despidos...
De suas vestimentas de mentira, sem vergonha da nudez de suas almas, da fragilidade que todos têm, sem medo de simplesmente ser...
É um pensamento tolo, posso admitir...
Mesmo este que escreve usa estas roupas, troca, coloca novas...
Nem todos estão prontos para ver quem você é, nem todos o aceitarão...
Sua maneira de pensar, suas atitudes opiniões, religião...
Então parecemos como uma cidade de casulos pseudópodes, pseudo-sapiens, sem olhar para frente ou para os lados, esbarrando em tudo em todos sem se importar ou mesmo enxergar...
Alguns pensam em eclodir, romper a carapaça dura da superficialidade e mostrar o que é, mas há tantos casulos por aí...
Nem parecem tropeçar por falta da visão, por falta das pernas, se arrastam como se fosse normal...
Alguns nunca conseguirão ver o sol, estão confortáveis demais lá dentro...
Os poucos que conseguem escapulir deste triste destino acabam por não ficar então não espere referências de vôo, é difícil manter-se preso aos antigos hábitos quando você ganha liberdade, sobretudo de você mesmo...
Então voe, até onde alcançar suas energias, não deixe que os conceitos a sua volta moldem quem você é ou pretende ser.
Em uma cidade de casulos, não espere que o ato de rompê-lo seja elogiado, incentivado ou mesmo cogitado, assim esta bom e sempre estará, assim são todos, assim sempre serão todos e agirão com naturalidade, como se fosse esta a única maneira...
Mas não precisa ser assim, há opções, ou você aceita o que vier ou luta pelas coisas que quer, nada tem que ser como é, a ação e a omissão ditam os acontecimentos, você só tem que escolher o que prefere...