Sou

“Sou o vento que foge duma bexiga estourada, ora aprisionado e contido por paredes insignificantes e covardes; sou a terra preta encrustada nos calcanhares de um menino pobre e descalço; sou o nó da cana doce que cresce num quintal qualquer dessa Bahia; Sou o capim-santo que se ferve n’agua suja, sou chá de boldo que amarga e cura, sou açúcar com farinha numa cumbuca, sou nódia na camisa encardida, sou o sal na manga verde e merthiolate na ferida semiaberta, sou palavras nos alhares mudos, sou a nica que tilinta num prato de alumínio na feira do São Caetano, a bengala do cego, torno-me, neste dia, a sirene que anuncia o recreio, chamando-te para fora”.

Adriano Paulo
Enviado por Adriano Paulo em 06/05/2014
Código do texto: T4796542
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.