Relevar indigno
Relevar. Palavra fogo que se contradiz e que não tem respeito próprio. Relevar é injusto para com nós, mas necessário também. Causa angústia em mim, que continuo, desde sempre, tentando escrever felicidade e não conseguindo; para mim que deveria escrever o quanto é importante saber relevar, para conseguir paz, mas que escreve sobre o quanto relevar é ruim e destrutivo. Mas tudo bem, porque para tudo há uma explicação. Não preciso dizer que o mundo estraga o próprio mundo, mas dizendo isso só, já basta como explicação para um bom entendedor. Então vou esquecer esse negócio de escrever sobre o que não sei escrever, o tal do relevar, e vou escrever o que tenho realmente para falar, sobre o que sei. Sei que saber não é bom. Saber enlouquece, afoga, desmorona a gente. Saber não é bom para quem não quer viver. No meu caso, eu quero; posso não estar conseguindo fazer isso muito bem, mas tá dando certo por enquanto. E como sei disso? Bom, aprendi que podemos o que quisermos, somente com a preparação da mente, e admito para mim mesma, envergonhada, que optei por sofrer. Sei que escolhi me afogar e foi isso que aconteceu, apesar de não ter sido eu própria a causadora do afogamento. Foram as ditas pessoas que me amam. Malditas! E é aí que entra todo o meu drama. O drama de saber, que é digno, ao contrário do relevar, pois o drama do saber faz sentido já que eu simplesmente só posso escolher por ser forte e continuar de pé, tentar entender e não enlouquecer. Como seria bom podermos desaprender. Iria poupar choros e afogamentos.
E sabe porque eu ainda me mantenho de pé? Porque eu não estou boiando! Porque eu estou vivendo, mergulhando, nadando, ficando cega e perdendo a respiração. Estou sabendo demais! Passando por coisa demais. Pensamentos demais. E é exatamente isso que não me faz desistir! Saber que eu posso continuar nadando, sentindo e me cansando, mas vivendo. Mesmo que seja no meio de pessoas que boiam... Mesmo assim, vale a pena me afogar.