Anacrônico
Estou no meu quarto, como é habitual. Confesso que escrevo por estar completamente farto de algumas situações, ainda que acostumado, nunca me é normal.
Escrevo porque converso com uma mulher. Porque a beijo. E penso muito nela. Acho que é o amor. Acho que estou ferrado.
Deus não é um cara ruim. Eu e ele temos uma relação muito franca e não convencional. Na minha vida, ele tem colocado mulheres estupendas... Que vivem enfurnadas em igrejas.
Igrejas (pra mim) são como garrafas vazias: um dia houve algo bom lá dentro mas agora é inútil, é só vidro. A igreja é uma construção vazia onde as pessoas vão (hoje em dia) se encoleirar, pois querem pecar, mas precisam da lavagem cerebral dos cultos pra segurar a onda.
As igrejas (em especial as evangélicas), são um lugar onde as pessoas vão não para fazer o bem, como queria o próprio "JC", mas para não fazer o mal apenas.
E lá estão elas, as crentes. Elas leem alguns textos meus, normalmente os mais sujos ou eróticos e me procuram pra tirar suas dúvidas, isso é o que dizem, mas rapidamente revelam que são virgens (sempre são virgens) e que querem perder a virgindade. Tão fiéis.
A maioria é bem infantil. Sentem a vontade, mas (pros crentes) isso é errado. É pecado. Só depois do casamento. Fico pensando nisso e imagino que nos palácios do paraíso, só entra quem é de um clube bem específico: os que transaram só depois do casamento. E é um clube bem restrito.
A maioria das pessoas que conheci, incluindo eu mesmo, infelizmente vai pro inferno. Ainda que tenham visitado asilos, orfanatos, ajudado o necessitado, dado de comer ao faminto, de beber ao sedento... Elas não esperaram o casamento pra transar. Então claro, Deus e JC, muito apegados as regras, nos condenam, afinal seguir essas regras é mais importante que fazer o bem em si. Deus e JC não dão uma foda pra caridade e a benignidade. Quando JC andou na terra ele veio trazer regras, claro, não foi para nos dar a salvação.
Então lá estou eu. Vivendo minha vida pacata. E lá estão os crentes, dizendo o quanto sou pecador e errado, fazendo tudo que eu faço as escondidas dos outros membros da igreja, ainda que a sombra não os esconda de Deus, o mais importante é que os outros membros não saibam. Então eles transam por aí como todo mundo, de forma sigilosa e oculta, como um adultério. As mulheres, as crentes, anacrônicas: crescem num meio antiquado, mas vivem em um mundo moderno. Filisteus.
Os pais que dificultam, tentando manter as pererecas de suas filhas ungidas e intocadas... Às vezes sinto pena, em especial quando sou eu quem macula a filha, de ver um homem defendendo ilusões, vivendo num castelo de cartas.
Mas acho que amar uma crente é justo. É o preço que pago por chutar a religião no rabo. É o amor tão anacrônico que sinto quanto as religiões que desprezo.