Camuflagem (engano)

O Sol que costumava ser frequente aos poucos dava lugar ao tempo nublado que custava a aparecer. Era quase que feriado quando o tempo esfriava, as crianças eram totalmente cobertas pelos agasalhos que passaram todo o ano em uma caixa jogada no Guarda-roupa e agora era propicio que se usasse, parecia um inverno italiano. As ruas que sempre foram bastante frequentadas agora se esvaziam, um silêncio também chega com o mês de maio, as aparências mudam completamente.

O único calor que sentimos agora é o dos abraços apertados dos parentes distantes que também chegam com o mês de Maio. Há como é bom o mês de maio, as casas são reformadas, todos esperam um convidado especial, esse mesmo convidado andará por toda a cidade e visitará todas as casas, com exceção das mais miseráveis, que tão pouco se importam com a mudança trazida por maio se quer cobrem as crianças com velhos agasalhos. Eles não se preparam exteriormente, mas creio que os seus íntimos também dão algum valor ao mês de maio.

Maio é completo, mas dura tão pouco, os 31 dias voam por aqui, mesmo assim a cidade não permite que a energia que maio trouxera se vá também embora. Junho desperta, e já entra o primeiro dia com forró, frio e alegria. O frio do qual se protegiam em maio, agora em junho é convite para sair de casa e curtir tudo isso. O lugar que todos conhecem como cidade sol, parece se camuflar a meio de nevoas e ventos gelados.

Hum, então percebemos que a cidade se prepara para receber São João. Balões, bombas, forró e quentão é sinal que já chegou à visita, já chegou o São João.

Daqui para frente o frio já não é mais incômodo, a chuva já não é empecilho. Eles se reúnem em volta de um bonito fogo e preparam com calma e ansiedade o São João.

No interior a festança começa um pouco mais cedo, festejam-se também Santo Antonio.

As moças sobem a escadaria da igreja apressadas para a reza da trezena, a fim de pedirem ao santo casamenteiro que ele as presenteei com um namorado.

Junho é sem duvida o melhor mês do interior, conseguem em junho esconder as misérias dos pobres, em junho se camufla a nossa verdadeira realidade. Os governantes que sempre foram ausentes, aparecem nos palcos das vilas para acenar pro povo, pensam aliviados “Circo já tem, agora só falta o pão”.

Em junho os nossos melhores pensadores põe venda nos olhos e fone no ouvido, e fingem estar tudo bem. O que mais constrange em junho são as festas de arromba que são bancadas pelas prefeituras que nos meses anteriores diziam não terem verbas suficientes para concertar os hospitais e as escolas.

Me envergonha essa geração de lendas que protestam de janeiro a maio e de julho a dezembro.

Me faz esconder o rosto esses escravos do bem estar próprio, que gritam por justiça, mas em junho se coloca a disposição das praças e dos forróres.

Me enjoa essa gente nojenta que apredejam os governantes em meses que antecedem o mês de junho, mas em junho os aplaudem como se fossem os melhores.

Me entristece a violência dos policiais no mês de junho, que batem, ferem e matam os jovens negros e pobres.

Me entristece a falta de memória em junho que ao invés do grande Gonzaga ouvem arrocha e matam a cultura nordestina.

Em junho os pobres ficam largados, com fome, nas ruas, pois o dinheiro que era pra cuidar disso está sendo ostentado nas bandas de peso que as cidades sem saúde e educação contratam.

Em junho eu choro e padeço pelo direito ao silêncio que é totalmente quebrado,

Em junho o inferno se camufla de céu,

Em junho o caos se camufla de nordeste, e festejam o São João.

Em junho o que era pra ser tratado é deixado de lado, e vira comemoração.

Em junho a miséria vira festa, vira alegria, vira ostentação, mas e daí? É junho, é são João..

Me envergonha essa nação !!