O ARQUÉTIPO DE ATENA

Lembro-me que muitos anos atrás, eu estava na faculdade e fiz um estudo sobre o arquétipo feminino através das deusas da mitologia grega. E dentre todas elas, a que mais me deixou intrigado foi Atena.

Filha de Zeus, foi uma das poucas Deusas a se manterem castas, e era de uma fidelidade canina ao pai. Em alguns momentos servindo como o braço armado do Olimpo e outras vezes se revelando portadora de alguma vaidade, como no caso da transformação da filha de Gorgon na medusa. Razão pela qual seu escudo tem a cabeça do monstro.

Atena foi responsável pelo desenvolvimento das ciências, do pensamento racional e não é à toa que a cidade de Atenas foi batizada com esse nome. A coruja era seu símbolo e também representa, entre outras coisas, o conhecimento.

Pois bem: o que realmente fascina nessa figura mitológica é a maneira como ela aparece em toda a mitologia e que tipo de características humanas ela pode apreender. Primeiramente, é interessante perceber que de certa forma, ela tem um pouco de cada uma das características de outros deuses, como o talento para a guerra de Ares, a proteção ás artes de Apolo, o dom para a caça de Diana e o instinto de proteção à família de Hera. Não é por acaso que ela era a preferida de Zeus. A deusa em que ele mais confiava.

Em muitos aspectos, podemos dizer que ela era a mais humana de todos os deuses, cuja gama de sentimentos e ações pendiam sempre mais para um lado. Atena continha todos. Mas o mais interessante é como ela não se deixava dominar por um ou outro sentimento. Era antes de tudo uma criatura racional. Mesmo que sucumbisse ao desejo de vingança mesquinha, na maior parte do tempo se mantinha analítica e controlada. Aí é que levava vantagem sobre Ares. Mesmo talhada para o combate, ela não era impulsiva como ele. Preferia estratégia e os ataques precisos. E caso fosse exercitar seu lado vingativo, certamente esperaria quantos anos fossem precisos para que sua vingança fosse eficaz e não desse ao inimigo a possibilidade de revanche.

Outro aspecto interessante: sua castidade. Certamente essa ideia da castidade era mais uma alegoria ao fato da mente não sucumbir aos instintos animalescos. A maioria dos deuses se meteu em todo tipo de confusão e tiveram vários filhos semideuses justamente por não controlarem o aspecto instintivo da natureza. O que pode parecer paradoxal em Atena, já que, como afirmei antes, era a que apreendia a maior quantidade de características humanas. Entretanto, Atena era um ideal humano ser atingido. O de alguém que está tão equilibrado com todos os seus impulsos que dificilmente se verá em situações complexas como as causadas pelo desejo.

Por fim, fico imaginando se Atena seria feliz assim. Difícil dizer. Ela era fiel a um propósito. E tinha o máximo respeito de seus adoradores. Respeito não conquistado pelo medo, como alguns outros deuses. Mas conquistado pela retidão e coerência de seus atos.

Interessante que até hoje ainda não conheci ninguém tão a fundo, a ponto de afirmar que tenha uma personalidade como a dessa deusa. Talvez nem exista. Mas é instigante imaginar como seria o mundo se nele sobressaísse mais o arquétipo de Atena e menos os de Afrodite e Ares.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 29/04/2014
Reeditado em 29/04/2014
Código do texto: T4788187
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