O gosto pelo horrendo

O fascínio pelo bizarro, proibido ou sobrenatural, seria algo imanente ao ser humano, ou apenas uma forma de fuga da realidade, um passeio pelo surreal?

Quem nunca se questionou sobre o real motivo de certo congestionamento e veio a descobrir poucos metros a frente um acidente e mesmo que tenha acontecido do outro lado da pista, os motoristas a sua frente insistem em reduzir a velocidade para apreciar a cena.

Com o advento da internet houve a facilitação da troca de informações, o encontro de todo tipo de materiais, porém, também somos encontrados por eles, como quando recebemos e-mails de remetentes desconhecidos, as publicidades por exemplo.

Os mais apocalípticos afirmam que estamos vivendo o fim dos tempos, porém, deve-se entender que mortes violentas, estupros, e todo tipo de degradação humana sempre aconteceram, o que existe hoje é um maior poder de exposição e alcance, levando vídeos dessa natureza a tornarem-se verdadeiros virais da internet, gerando até a criação de páginas com tais conteúdos.

Sem grande dificuldade é possível encontrar vídeos com mutilação ou automutilação, execuções, zoofilia, entre tantos outros estilos, se é que podem ser chamados assim, entende-se que mesmo sendo criminosos muitos desses vídeos, outros de conteúdo duvidoso ou contendo tabus, criados por esta mesma sociedade que no submundo, nos “bueiros” noturnos, admiram e os devoram com voracidade.

Interessante pensar que os assédios sexuais denunciados no transporte público de São Paulo, sempre aconteceram, mas bastou que se tornasse público o assunto, para descobrirem até redes sociais em que os membros compartilham entre si o gosto por tal pratica.

Fernando Botero já retratou o sofrimento das pessoas em condição prisional, sofrendo maus tratos, ou em condições desumanas, e talvez seja um tipo de arte que não agrade a maioria.

Então porque será que vídeos de execução, brigas, os tais acidentes citados acima, ou mesmo situações como discussão de vizinhos, que deveriam nos causar ojeriza, atraem tanto? Desde é claro que venham na segurança da rede, dos smartphones, no mundinho privado, seduzindo os olhos até daqueles que em público condenam veementemente atos de natureza violenta.

Na Divina Comédia, Dante Alighieri descreve uma situação interessante, em que foi duramente reprendido por Virgílio, o poeta que o guiava pelo inferno, quando em um momento de distração, Dante parou para apreciar uma resenha em que dois demônios atracavam-se e se mordiam. O poeta questionou-o sobre que tipo de prazer bizarro era aquele, ou o que teria para se aprender assistindo aquilo?

O tempo, senão o mais é um dos bens mais preciosos que temos, então porque gastá-lo com coisas que nada vão agregar em nossas vidas, como determinados reality shows que são exibidos na televisão? Não espero que este texto seja visto como moralista ou algo assim, mas que apenas provoque alguma reflexão.