BARQUINHOS DE PAPEL - Frágeis como a vida na textura do tempo.

                                   
De suas cartas farei... Meus barquinhos de papel.




TINHA DE IDADE TALVEZ SÓ CINCO ANOS.
A CHUVA PESADA JÁ HAVIA PARADO.
TUDO CLARO NA MENTE SEM ENGANOS:
O INSTINTO INFANTIL SEMPRE ADVINHA,
CONHECE PELO ODOR DO AR O CHAMADO
INSTINTIVO INICIADO PELA NATUREZA,
QUE LÁ FORA ENXURRADA FORTE VINHA.

JÁ SABIA FAZER BARQUINHOS DE PAPEL,
MAL FEITOS, MAS OS ACHAVA UMA BELEZA!
A ÁGUA LEVAVA  A TODOS BEM DISTANTE...
À BEIRA DAS SARGETAS, DE GURIS O TROPEL
MEUS OLHOS... CHORAVAM BASTANTE,
PORQUE IAM RÁPIDOS E NÃO VOLTAVAM  MAIS,
NEM OS OUTROS COLOCADOS LOGO ATRÁS!

Ó FRAGMENTO VELOZ DE UMA INSTÂNCIA,
NA ÓRBITA DE UM MÁGICO MUNDO VÁRIO:
DE UMA OUTRA DIMENSÃO: A DA INFÂNCIA
LÁ NA RUA TREZE DE MAIO, E SEU TRAÇADO
JÁ TÃO PERDIDA NA BRUMA DA DISTÂNCIA,
EM CERTA CIDADE DO MILÊNIO PASSADO!




Desde então nunca mais parei de fazer barquinhos de papel.
Eles continuam mal feitos, só que agora são de papel de um Diário.
A chuva não para, as enxurradas também, todas são afluentes.
Vão agora todos tripulados, cada vez mais longe dos meus olhos,
Que ainda choram tristes, por ver todos desaparecerem um após o outro.
Para aonde se vão todos? A pergunta persiste...
Encontrei-me com o Tempo, perguntei, e ele meneou a cabeça.
Os barquinhos estão indo cada vez mais rápido, mais rápido...
Estou em um deles, feito com as folhas de meu Breviário.
Não é a descida da minha rua de pedras que os está tornando rápidos.
Mas pressenti. Sim! É a Grande Catarata que se aproxima, onde termina,
O estrondoso Caudal da Vida!





Minha alma é uma oficina de barquinhos de papel.
Meu coração é o estaleiro,
O mar são as desilusões.
O vento que os impele são os desenganos,
Meu porto são as vaidades humanas.
Só nas praias ainda restam
As últimas estrelas da esperança!





Quem faz um barquinho de papel,
não faz só um barquinho.
Tem que voltar a ser criança!
Sonhar com toda a esperança,
que uma poça de água da chuva
é um lindo laguinho,
ou o mar que ainda não viu.
Não viu, mas imagina.
E toda imaginação infantil
tem a mágica de ser divina.





TROVINHA
Eu que só te dei meu carinho,
Por teu amor fui atraiçoado.
De papel fui um barquinho,
Que se acabou naufragado!



Sempre amei os barquinhos de papel, mas odiei tornar-me um deles a naufragar em lágrimas por teu amor.
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 09/04/2014
Reeditado em 20/05/2014
Código do texto: T4761934
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