Procuramos sentido nas coisas

A maioria de nós, se não todos ou muito próximo a todos, vivemos buscando encontrar sentido nas coisas, sentido no viver, e sentido de viver. Algumas coisas parecem realmente possuir sentido, mas será que especificamente o viver, o nosso viver, possui realmente algum sentido? Será que tenha que possuir algum sentido? Poderíamos viver de forma natural e orgânica, social e humana, sem um sentido próprio para o viver? Será que buscando fugir de algum vazio de nós mesmos, de algum vazio social, acabamos por tentar construir valores e sentidos artificiais para o viver, e assim, acabamos por envolvê-los em imagens que horas são naturais e outras horas são supernaturais, e em alguns casos até mesmo místicas. 
Pessoalmente entendo que sim, que podemos viver organizadamente e equilibradamente sem especial sentido para o viver, mas muitos outros creem que não, que se não tivermos um motivo, uma moral, um sentido, tudo pode ser motivo, tudo pode ser o sentido de viver, e assim não teríamos razão para sermos humanamente morais e socialmente éticos, pois que nesta ausência de sentidos tudo seria permitido. Pode ser que a resposta não seja nem tanto para um lado como nem tanto para o outro, pode não existir sentido especial para a essência do viver uma vida mental, mas pode ser que a evolução, de forma natural, tenha selecionado circuitos neurais que ajudavam a manter minimamente coesos o ser social que somos. Assim pode ser que de forma estritamente biológica, o sentido do viver seja garantir continuidade a própria existência da vida, entretanto, quando falamos de seres mentais, de eus sencientes, e de pessoas humanas, a evolução possa ter realmente dado uma força, e alguns valores básicos, e sentidos naturais que possibilitavam manter coeso o corpo social de qualquer contingente de animais, tenha sido naturalmente selecionado, e o mesmo vale para praticamente todos os animais onde o convívio social seja marcante, pois que se percebe também neles, certo grau de atenção, carinho, cuidados e “sensibilidades” para com os do grupo. No caso do homem, como o poder mental cresceu muito mais, pode ter sido um caminho natural aquele em que aqueles princípios básicos, valores elementares, e sentidos naturais tenham naturalmente crescido e transformado em algo mais humano, dando assim algum natural sentido social, humano, empático e sensível a nossa existência. 

Nossa mente necessita de, para se sentir confortável, perceber alguma história nas coisas, alguma coerência lógica, algum sentido naquilo que acontece, uma razão para algo que tenha acontecido, ou para algo que ainda vai acontecer. E esta condição pode ser derivada ou mesmo ser uma das causas para alguma seleção de sentidos básicos que podemos perceber para viver. Nossa mente se sente mal em situações de caos existencial, se sente insegura em estados aparentemente aleatórios ou de baixa probabilidade, assim, pode ser que ambos os lados estejam corretos, e mesmo não existindo categoricamente nenhum sentido especial para realizar o nosso viver, pode ser que nosso circuito cerebral traga programado alguns conceitos de onde poderíamos extrair sentidos, motivos e valores, e entre estes até mesmo alguns valores morais elementares, para um viver socialmente digno.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 06/04/2014
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