Por que ele não se cansa? Uma tarde de praia...
Eu andava pela praia. Sentei-me e por horas observei aquele grande obséquio. O simples encontro das águas de sal com a superfície de areia. Eu sabia que muito mais de areia tinha embaixo da própria camada azul, mas me pus a julgar aquela paisagem! De inicio perguntei a mim mesmo, pois sabia que o mar que não tem ouvidos, não escutaria:
- Do que o mar tem medo? Ele incessantemente ameaça encobrir a areia, porém sempre em meio ao seu trajeto desiste, volta. Porque ele não vem afinal?
E continuei a me questionar por tempos... Olhei para o navio lá ao fundo que mal se mexia, era enorme, rústico, devia estar fazendo muitas feridas na pele do grande azul. Mas o que fazer? É o mar que permite suas pulgas... Tempos depois olhei para uma nuvem. Era uma formosíssima mulher. Linda! Resplandecia e era branca como a lã. Parecia tentar envolver todo seu charme sobre o mar, o tocava levemente ao fundo, parecia tentar abraça-lo ou afaga-lo intimamente; não entendi se era o mar que não permitia ou se era a mulher dos céus que não conseguia com todo aquele imenso e formoso corpo do mar. Acreditei que ela era uma esposa infiel. Pois o que explicaria então a ação, de tempos depois, dos ventos celestes, que a empurrou de qualquer forma? Devia ser ele o marido ciumento.
E quando foram embora voltei a ver a praia. Aquele lindo obséquio! E tu leitor, me perguntas: “Mas, porque obséquio?” Oh! Inocente leitor não vês? É um grande favor aquela visão. Talvez estejas olhando com os olhos errados, troque-os.
Depois de uns instantes notei o que era que estava acontecendo, entendi. Quão bela não é a natureza? Quanto que ela não nos ensina?
Quanta satisfação não tem a areia da praia? Como não acalentar-se com o meigo carinho do mar? Em breves e solenes ondas a mão do mar se revela sobre o corpo das areias, tal qual um homem que aconchega sua dama em palpitares amorosos, como a mão de um valente cavaleiro na cintura de sua bela princesa em um baile insondável. E eis que esse baile – o do mar e da areia – não se acaba, não se cansa, não se extingue. Acariciam-se como se nada mais importasse.