OUTRO GOSTO

E de novo o dia começa sem sol, sem lua, sem sal, sem paz, sem medo, sem verdade. Também esse é um tema importante que permite ao imaginário recriar as possibilidades de encontro de cada "eu" perdido ou roubado, saqueado ou doado simplesmente por amor... É hoje, é agora, de toda forma a vida sempre se renova e vale à pena. Feliz dia novo ó alma insípida desposada pelo sopro e abandonada em seus caminhos pela força do vento. Até o vento desistiu de lançar-se contra. Árido é o lagar sob os pés descalços que sangram feridos pela sobra do bagaço ainda quente. Bagaço seu moço! Joga fora. Um corpo usado não pode ser doado a outro corpo. O caminhar de encontro ao vento revela a força contrária do indivisível invisível soerguida em desfavor dos pesados passos, um a um... seja qual for a direção, a intenção retida. Falsas intenções o tempo todo permeiam a vida e a realidade de muitas almas revestidas de mentiras e de sentimentos inúteis para o tempo e para dia de inferno que cada uma vive a seu turno diurno. Se o paraíso está onde está o poeta, também o inferno nele se projeta quando há dissimulação de atitudes e desengano do ser amado. Os olhos não mentem e sempre podem desnudar palavras embaraçadas de boas medidas mas de falsos abraços, lacaios sem sorte, beijos de morte, carrascos de sentimentos, ferinos instintos. Não há nada de novo sob o céu já dizia o profeta.

Ancelma Bernardos
Enviado por Ancelma Bernardos em 05/04/2014
Reeditado em 09/09/2014
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