Por que as folhas tem que cair?

Por que as folhas caem? Seria vento o culpado? Do nascer ao findar, da aurora ao crepúsculo, do início ao final não resta uma folha sequer, elas caem e são empurradas para o abismo do esquecimento, enquanto suas novas substitutas brotam e tomam toda a atenção.

Seria tão certo o Sol ressecar essas bastardas?

Seria tão correto, as chuvas encharca-las?

Seria tão justo elas aguentarem as pisas dos sopros?

E em tudo elas se emudecem. Por que elas se calam, pergunto eu?

Por que não protestam que estão sendo trocadas? Por que não reclamam que estão sendo usadas? Simplesmente esperam serem beijadas pelo chão e ali morrerem.

Por que caem as folhas? Seria a vida, a certeza que a vida me dá, que nada é para sempre? Ou que o sempre, sempre acaba? Seria a denúncia da incorruptibilidade, onde a clausula é o meu perecimento? Saber que a vida somente me deu o direito de vivê-la em poucos instantes? O fim do ciclo é a consumação?

Quem ousará me arrancar da árvore da vida? Quem quererá findar meus projetos, acabar com meus anseios, e finalizar com meus amores?

Quem interromperá meu fôlego? A vida? Que venha ela! Sou uma folha. E perguntarei: - Porque me destes a ti, e destes vós a mim, e agora retiras de mim o que tenho de ti, e tiras de ti o que tens de mim? Não valho nada?

Não quero a mesmice, mas tenho escolha? Seria a morte a minha última jardineira? Então me lembrarei de pergunta-la: - Por que não pedes pra ser viva a vida? Dessa forma nunca mais a vida morrerá.

Acho que a morte é amiga da vida, por isso a vida não morre, e a morte não vive, e andam ambas lado a lado, esperando quem possam tragar, e tenho medo de achar isso. Se eu morrerei, este é o fim de todas as folhas, como viverei ainda depois? Como sentirei, me alegrarei, aprenderei e crescerei?

O sentido da vida é crescer, é enramar, é fazer parte da beleza existencial das coisas, beleza essa que se manifesta não no que é superficial, mas nos meus gestos. E ainda que as folhas que mais amo, as que estão do meu lado, sejam carregadas pela mão da morte, eu ainda TENHO que crescer. Não pude escolher em que parte da árvore nascer, não pude escolher entre todas as folhas que já passaram as que eu quero conversar, mas escolhi das poucas que me rodeiam, das poucas que suportam me rodear, viver a vida que a vida me deu. Que lástima!

Então mesmo que o jardineiro que plantou a árvore em que nasci, imponderavelmente, insondavelmente me trouxer de novo a existência, tenho certeza que meus desígnios não foram suportados...

Leandro Santtos
Enviado por Leandro Santtos em 04/04/2014
Código do texto: T4755984
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.