Um anjo...
“Com os fones em meus ouvidos, entregue à música de corpo e alma, enquanto caminho sem rumo nem caminho traçado pela cidade, ouço o som dos pneus ralando no chão, ficando carecas, em curvas bem ao lado de mim, bruscamente me tirando de meus devaneios e me trazendo de volta para minha realidade, na qual minha mente berrava por algo capaz de cala-la. Ônibus, carros, vans e adjacentes passavam com considerável velocidade ao meu lado, bem ao meu lado... Minha mente pedindo silêncio, mas contradizendo a si mesma, pois berrava sem cessar. Sem sucesso, continuei andando, aumentando o volume dos fones, porém nada me tirava da prisão chamada PENSAMENTOS que eu mesmo me prendi... Senti vontade de dar dois simples passos à direita, abraçar e cumprimentar a dianteira de um ônibus ou de um caminhão em alta velocidade que, à toda momento, por ali transitavam... Faltou-me coragem... Mas logo ela chegou... Faltou-me um abraço... Mas acho que se perdeu no caminho... Naqueles ínfimos segundos, pensei em tudo que me rodeia, todos que dizem me amar e como ficariam sem mim, incluindo minha família... Concluí que tudo seria melhor sem mim, talvez alguns chorassem, mas logo me esqueceriam... Mas ao tomar esta suicida decisão, uma voz se fez mais forte em minha mente: a voz de minha amada. Aquela bela voz entonando raiva exigiu-me para que eu recuasse, exigiu para que eu vivesse para desposá-la, exigiu que eu recuasse para que pudesse tê-la em meus braços e poder sussurrar-lhe ao pé do ouvido: “Finalmente te farei minha”... Essa voz foi o que me deu forças para seguir pra frente, e não pro lado... E você, como estaria agora se eu me fosse?... Temo pela resposta...”.
(Doragon Higurashi)