Diante do adeus
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Afogar-se em lágrimas diante do adeus, reveste-se de arrependimento por tudo o que não foi feito, por todas as lacunas que ficarão abertas, eternamente, pela impossibilidade da constatação – o que finda prematuramente tem gosto amargo. Lágrimas de luta não escorrem, mas jorram, intrépidas, pela face; se derramadas, carregam dentro de si algo de ruim, o peso da incompletude – embora fluam da finitude que a estreiteza da face oferta, avolumam-se e nos sufocam, em razão da angústia que o ‘não fazer’ provoca. Os medos, quando nos envolvem, tornam-se fantasmas das nossas fugas e pusilanimidades, sem qualquer associação a mágoas. Quando o fazem, não são trazidos por nenhuma insanidade. Ao persistirem nas mentes daqueles que perderam o prazer do amor por medo de tentar, certamente catalisarão a loucura da desilusão, manifestada no instante da consciência de que perdemos o verdadeiro amor que nos pediu passagem, o amor único que a todos nós é dado o direito de viver, sem, contudo, a opção da segunda chance.