Inteiro
Trago por dentro meus fantasmas errantes, machucados,
cúmplices e displicentes.
Uns dirão que estar vivo é escolha, atrevimento.
Para mim é incoerência perpétua, presunção.
Como podeis saber mais de mim se não compreende minhas renúncias?
Impedida de sofrer por tampouco, me pus numa ausência
sem concessões.
Qual sentido encontrará quando nada mais se procura?
Existem ha tempos, machucados difíceis de fechar
As vezes a mão que consola é a mesma que abre a ferida.
Queria estar mais forte, mais convencida,
me sentir menos quebrada, menos afetada, sentida.
Mas chorar não me parece menos banal do que antes
e me sinto quase como impostora da minha própria trama.
Difícil é pedir abrigo quando se é estrangeiro em qualquer lugar.
Por traz da cortina é confuso, percebe-se dores, o desgosto do público.
Quero outros motivos, outros papeis, rumos, prumos
Refaço itinerários, destinos incertos não traem expectativas.
Serei mesmo este preto e branco eterno, rancoroso absoluto?
Liberto, exausto, não vejo cores,
nem reluto.