Um momento de lucidez
Não, ele não é um iluminado.
Não, ele não é consciente.
Ele está, assim como eu, buscando a consciência.
Ele está, assim como eu, lutando contra seus monstros. Exatamente como eu o enxergava no início.
Não, ele não é uma vítima. Mas tão pouco é um carrasco.
É um ser humano.
Totalmente mergulhado dentro dessa realidade de desejos, frustrações, quereres, perdas. De vez em quando coloca a cabeça pra fora desse oceano, assim como eu, de vez em quando entende as coisas. No resto do tempo, é como todos nós.
Sim, ele tem algo de especial. É a busca dele que o torna especial para mim. É ele estar buscando ser uma pessoa melhor, e não descansar, e não permitir-se ficar na zona de conforto. Essa sempre foi a sua melhor qualidade aos meus olhos.
Mas não posso simplesmente ser conivente com as suas atitudes imaturas. Com a sua violência. Eu não posso ser passiva frente ao seu rancor, nem à sua raiva. Não posso ser passiva quando ele me agride, ou quando ele me empurra, quando tudo o que eu quero é abraçá-lo.
Não posso simplesmente fingir que isso não importa. Porque isso importa, sim. Isso importa não para me fazer detestá-lo. Isso importa na medida em que ele está mergulhado dentro disto sem perceber - ou sem conseguir sair.
Não posso fingir que a sua atitude violenta "não foi nada".
"Você já foi violenta", é o que me diz minha consciência. "Sim, eu já fui. E eu não me orgulho nem um pouco disto".
"Ele se afastou, ele não deve se orgulhar disto também.", diz-me a minha mente. Que seja, dentro de mim eu não posso simplesmente supor nada. Se ele não vir retratar-se, eu não poderia simplesmente fingir que nada aconteceu. Eu não devo e não tenho condições de supor nada, de entender nada entrelinhas, entreatos.
Então, enquanto ele estiver mergulhado em ódio, não posso fazer nada a não ser torcer para que ele liberte-se de tamanhas correntes. E manter-me longe.