Olvidando o presente e ansiando o futuro

Olvidando o presente e ansiando o futuro

Nos tempos idos, quando os homens sabiamente viviam o presente, sem leviandade ou imprudência, conquanto fossem circunspectos e sagazes o suficiente para não sucumbirem à impetuosidade de atitudes momentâneas, deste modo comprometendo o futuro, havia deleite.

Essa ideologia, aparentemente concebível ao homem moderno, encontra suas raízes em um devaneio insensato onde batalha-se por um futuro venturoso, de modo que a ideia edênica de prosperidade e tranquilidade, seja de uma casa própria ou de um trabalho cujo salário seja o suficiente para solucionar problemas de saúde que possam nos acometer, nos insere em um círculo vicioso do qual não conseguimos sair. Sabemos que a pressa é inimiga da perfeição e que a caminhada paulatina rumo a montanha da vida proporciona-nos tempo e sabedoria para lidar com as tribulações. Contudo, olvidamos o presente, que apenas age como coadjuvante do futuro, e no futuro tão almejado continuamos lutando por um futuro que um dia foi inexistente e não fazia parte de nossas aspirações. O futuro de ontem é o presente de hoje, certo? Não obstante, quando olhamos para o presente com o intento de gozá-lo?! Quase nunca!

Façamos uma viajem pela estrada da vida. Éramos crianças e desfrutávamos dos momentos com fervor. Havia indubitavelmente ansiedade, mas essa se referia à alacridade que um momento contente nos conferiu . Um anseio pelo júbilo hodierno e não por uma quimera. Percebíamos a satisfação em que nos aventurávamos em atividades lúdicas em meio aos bosques, ou um dia aprazível na piscina rasa sendo observado pelos nossos pais que assentavam nas mesas ao lado, aludindo aos problemas da vida cotidiana em meio a momentos de relaxamento fugaz. É exatamente nessa época que já nos é permitido desfrutar dos nossos sentidos:da inteligência, do vigor jovial e das descobertas surpreendentes que a nossa inexperiente e tenra idade nos possibilita encontrar. Por algum desvio no curso natural da vida, antes mesmo de nos tornarmos mancebos, um credo equivocado nos impregna e antes que tenhamos o discernimento para avaliar a situação com olhos maduros a mancha que apenas impregnava tornou-se parte do eu. Quando a maturidade finalmente emerge da mistura do eu com as experiências da vida, já é tarde demais. O borrão que nos confundiu está instalado como um vírus, tão persistente que nos faz crer que isso é algo congênito. É quando o ecúleo da ilusão nos assola e rouba nossas vidas, logrando e ludibriando, oferecendo-nos um ciclo sem fim, do qual poucos conseguem sair. O presente torna-se uma busca insaciável por ambições que, quando alcançadas, dão origem a uma meta inatingível. Ao despertar, já estamos velhos e desestimulados, porque não soubemos usufruir do momento presente, isto é, o futuro pelo qual lutamos um dia.

Caminhe pelo deserto árido com o objetivo de encontrar o mais opulento oásis; lute e caminhe sempre avante, mas na hora em que deparar-se com ele, desfrute da água refrescante e da sombra tépida que as árvores fornecem, sinta o zéfiro matutino soprando languidamente dissipando o mormaço. Parta se achar que deve, mas lembre-se que o presente foi o futuro que tanto almejou, e que se seguir em frente, pode perder-se nas tortuosas dunas de areia e nunca mais achar seu caminho de volta.

UM VIKING DE ÓCULOS PERFIL DOIS
Enviado por UM VIKING DE ÓCULOS PERFIL DOIS em 27/03/2014
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