Fotos antigas
Mais uma batalha perdida;
Olho as fotos no fundo da caixa empoeirada.
Na minha boca um gosto acre. Talvez seja a cerveja quente. Talvez o refluxo.
Talvez seja minha frustração transformada em saliva.
Viro de costas e fixo meu olhar no brilho que vem pela janela, querendo que o tempo passe.
Esperando satélite dar mais uma volta no mundo,
e o mundo dar mais uma volta em torno do sol.
Um ciclo repetido tantas vezes que deve ser extremamente tedioso para uma entidade cósmica que o observe de cima.
Por isso que Deus criou a humanidade, eu acho.
O cosmo é previsível demais.
Segue todas as leis da física perfeitamente.
Agora tente enfiar alguma lei na cabeça de um homem.
Eventualmente ele vai arrumar um jeito de quebrá-la.
Tente dizer a uma mulher que ela deve girar em torno de um eixo por toda a eternidade, como faz a lua. Na melhor das hipóteses você vai ganhar uma mão na sua cara...
Devemos ser infinitamente mais atrativos e divertidos do que os corpos celestes e a poeira estelar.
Acho graça desse pensamento...
Pego novamente as fotos e guardo dentro de um livro.
Um livro que sei que não vou ler. Jogo de volta na caixa e olho para o céu.
Lá está a lua.
De certa forma, sinto-a mais perto de mim
do que a mulher da foto.