Fotos antigas

Mais uma batalha perdida;

Olho as fotos no fundo da caixa empoeirada.

Na minha boca um gosto acre. Talvez seja a cerveja quente. Talvez o refluxo.

Talvez seja minha frustração transformada em saliva.

Viro de costas e fixo meu olhar no brilho que vem pela janela, querendo que o tempo passe.

Esperando satélite dar mais uma volta no mundo,

e o mundo dar mais uma volta em torno do sol.

Um ciclo repetido tantas vezes que deve ser extremamente tedioso para uma entidade cósmica que o observe de cima.

Por isso que Deus criou a humanidade, eu acho.

O cosmo é previsível demais.

Segue todas as leis da física perfeitamente.

Agora tente enfiar alguma lei na cabeça de um homem.

Eventualmente ele vai arrumar um jeito de quebrá-la.

Tente dizer a uma mulher que ela deve girar em torno de um eixo por toda a eternidade, como faz a lua. Na melhor das hipóteses você vai ganhar uma mão na sua cara...

Devemos ser infinitamente mais atrativos e divertidos do que os corpos celestes e a poeira estelar.

Acho graça desse pensamento...

Pego novamente as fotos e guardo dentro de um livro.

Um livro que sei que não vou ler. Jogo de volta na caixa e olho para o céu.

Lá está a lua.

De certa forma, sinto-a mais perto de mim

do que a mulher da foto.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 23/03/2014
Reeditado em 23/03/2014
Código do texto: T4740665
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