Bar
Já estava tudo certo, iria a festa (Dopamine). Se tem uma coisa que gosto, é de dançar. Puts! Fazia o maior tempão que não me jogava numa pista, isso era algo que me fazia falta, mas me neguei a esse benefício, fui postergando, sei lá o por quê.
Saímos (estava com minha irmã), apaguei todas luzes de casa. Chegando próximo ao local da festa, parei em frente a um desses botecos fuleiros, mas que serão sempre os melhores para beber e ver a vida com seus aspectos e formas, coisa que muitos rejeitam, torcem o nariz e lançam pra debaixo do tapete, toda sujeira que o homem produz em seus desvários. Esse tipo de lugar, geralmente são sujos, feios, gordurentos, mas a gente pode ser o que é. Havia um na Amaral Gurgel que vez em quando eu aparecia por lá. Menina ainda, gostava de ver os travestis, viajava na luz vermelha e azul em neon de uma placa que estava posta sobre uma porta. Esses tipos de “botes” não pensem ser minha primeira opção, apenas me chamam a atenção, quem sabe seja a assimilação ou aceitação de uma condição, que jamais neguei, a do ser miserável que sou, um nada revestido de carne, que nas fotos que bem ou mal produzidas são lançadas, gerando cobiça nas redes sociais.
Minha entrada no boteco a principio era apenas para comprar cigarro, mas minha irmã acabara de reencontrar um amigo e questão de um convite, brindamos o reencontro. Permanecemos por ali por um bom tempo. Na porta do bar, de cara duas mulheres se pegavam, não, elas não estavam trocando caricias, era inicio de briga, motivo não justificável, mas era sim, por causa de macho.
Enquanto minha irmã conversava com o amigo, fiquei observando duas garotas numa dessas máquinas de karaokê cantando, a música eu conhecia, era um samba ou numa classificação correta, pagode. As meninas esbanjavam simpatia, se emocionavam com a melodia, elas, assim como eu, sabíamos que a letra falava de nossas vidas
“Se algum dia
Eu te encontrar por aí
Não sei bem se vou chorar
Se vou sorrir...”
Resolvi sentar. Num desses bancos altos sentei e cruzando as pernas como de hábito, ouço o rapaz me perguntar algo, como o barulho atrapalhava, cheguei mais perto e ouvindo, achei graça... – Você esta de shorts né? Menti, disse que não (rs) na mente dele já estava constatado, e jurava que a calcinha era preta. Daí foi questão de segundos pra relaxar de uma semana que começou esquisita, onde havia sido preterida e como mulher me sentia incomodada e esquisita, isso até ver a fisionomia do cara após minha negativa. O vestido de fato era curto. Sou adepta ao minimalismo.
Bebemos, conversamos, fiz parceria com o mais novo amigo, que não tirava os olhos de minhas pernas, e com toda sua gana de homem, me prometia mundos e fundos. Mas ainda faltava algo, queria dançar e dançar ao som de guitarras insandecidas, era a falta do velho e melhor que o rockn’roll pode nos proporcionar. Saímos do boteco, eu e minha irmã, ele ficou pra pagar a conta, prometeu que nos encontraria lá. Dito e feito, quando o vi entrar, lá estava eu na pista com uma garrafa de cerveja na mão, dancei como sempre, mas a muito não fazia e minha última lembrança foi quando na pista extasiada, "nas curvas da estrada de Santos" eu fui embalada.
“quem te viu na madrugada perdida, dando origem a uma virada em sua vida... eh mulher..."