VIDAS
Há um tempo para o maior dos voos, é quando suas asas se abrem e voce sabe que atingiu o seu céu. Um céu de liberdade infinita... e tudo que importa é plainar sobre o mar azul. Céus e mares que habitam nosso eu. Assim voce olha a vida lá do alto e percebe-se na atmosfera da paz. Percebe caminhos percorridos, o tempo no tempo, a vida ida. Quanta coisa se foi, quantos momentos ficaram . É uma tela que deve ser contemplada. Lembra-se então, das mãos que segurou e das mãos que soltou e sente quando fez do seu universo um manto que aquecia outros mundos. Ou quando tirou deles o manto. Somos passageiros da vida apesar de sempre nos acharmos donos dela. O tempo vai se esgotando na ampulheta e a areia caída se deposita no fundo e nunca volta. Muitas pessoas enchem seus baús com pequenos tesouros, ainda que sem valor aos olhos do mundo. Existem pessoas que enchem seus baús com retalhos, belos retalhos da vida, cuidadosamente guardados. Existem pessoas que preferem um baú cheio da fantasias, belas, fáceis, que impressionam os que olham. Fantasias de papel. Chega um tempo, quando anos e anos correram, que cada qual abrirá seu baú e então perceberá o que fez de seus dias. Baús nunca mentem para o seu dono. Nessa bela manhã de outono, abri meus olhos e contemplei bem ao meu lado o que elegi como o mais valioso dos tesouros. Se vieram desertos ou tempestades eu permaneci, segurei-o. E então, passados os tempos escuros e as ventanias eu sorri ao ver o que havia dentro de meu bau e senti o meu céu infinitamente azul.