"Sandro"

“Sandro”

Na imagem fria e silenciosa observava a calmaria noturna, vigiado pelo oculto tempo que o espreitava cautelosamente. Não se deu conta de espiar o relógio e nem percebeu a distância entre o passado e o presente.

Vagou por minutos em quilômetros de pensamentos, viajou nas asas de um Ipê com nome de Mulher. Sentou-se na varanda imaginária criada pela sua amada. Leu seus poemas e chorou.

Resignou-se do instante em que fora prudente, não permitindo que seus desejos e excessos fossem realizados. Abaixou sua cabeça em sinal de protesto, mas a sentiu presente, como se o seu corpo, em raios e trovões, povoassem aquela atmosfera.

Montanhas separam-no da terra que a acolhe, o mesmo céu que o toca também a cobre. O vento que por hora toca sua face tem o cheiro incerto daquela mulher: ora mistério, ora tão real.

Resiste ressabiado em responder aos seus impulsos, divaga entre uma carta e uma foto, fecha os olhos e a imagina. Toca seus próprios lábios para podê-la sentir, abraça-se finitamente único, desejando-a sempre.

Volta-se perdoado por ter sobrevivido a mais uma noite na eterna saudade. Vira-se, olha novamente para trás, distancia-se do vento que lhe beija a face e encerra mais uma noite do desconhecido desejo.

Redime-se do seu medo, favorece-se da sua covardia e adormece no seu segredo.

É assim que eu o vejo todas as noites,

Vagando em sentimentos que gritam dentro de seu corpo...

É assim que vejo: um homem e uma mulher...

Um sonho.