O QUE SER QUANDO CRESCER?
Boas palmadas serviram-me de boas-vindas quando vim ao mundo. Mal iniciara a vida e já precisava aprender a chorar para subsistir ao mar de mágoas que acabara de ingressar. Guardar comigo todas as lágrimas da vida poderia criar em meu interior um depósito de aflições que, ao transbordar, não seria possível suportar o peso. Então, eu naufragaria certamente...
Quando criança, tudo parecia mais simples. As torres de brinquedos empilhados se tornavam mais altas na proporção da minha experiência na arte de brincar. Eu era um grande engenheiro até que chegasse um amiguinho para ser uma cobaia e tornar-me um médico. Era fácil viver explorando cada canto da casa como se estivesse descobrindo os lugares mais distantes do espaço sideral. Eu era também um astronauta. Enfim, tinha todas as profissões e um vasto patrimônio, além de ser um valente guerreiro que vencia todas as guerras daquele mundo de imaginações. Até que veio a inevitável pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Eu era tudo e descobri-me sendo nada. Descobri que a vida, desde cedo, trazia-me preocupações e exigia-me que tomasse decisões. Até então o presente era um sonho. Desde então transferi meus sonhos para o futuro e chorei.
Chorei por perceber que a vida não é um sonho, mas descobri que ela pode ser movida a sonhos. Eles são o combustível que nos impulsiona a correr, a ir atrás da realização, a crescer. Eles ajudam-nos a passar pelos espinhos da vida e, mesmo com profundos arranhões, seguir em busca da flor que está mais adiante, em vez de viver inertemente lamentando por ninguém nos trazer um buquê.
Descobri que temos muitos sonhos, mas devemos escolher os mais ousados, os nossos preferidos, e a persegui-los com determinação. Para que não sejamos meros sonhadores, mas grandes visionários.
Percebi que a vida não é tão simples como eu pensava quando criança e que realmente eu nascera num mar de mágoas. Mas nada, nada me impede de construir uma jangada, uma canoa, um barco ou até mesmo um navio de felicidade para flutuar por cima dele. Porém, reparei que algumas pessoas à minha volta, ao invés disso, se contentam em apenas boiar. Deixam que as ondas e a correnteza os levem a qualquer lugar. Preocupam-se apenas em ter e não em ser e crescer. Vivem à deriva!
Aprendi que o choro nem sempre significa derrota e que o sorriso pode esconder grandes aflições. Portanto, não podemos sufocar nenhum deles. Afinal, o sorriso abrilhanta e as lágrimas irrigam os rostos de grandes vitoriosos quando sobem ao pódio.
Com o tempo, as pessoas não fazem mais a pergunta “O que você quer ser quando crescer?”. Então, devemos repeti-la a nós mesmos, pois nunca é tarde para ser criança e nunca é cedo para crescer.
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