Carta morta de saudade
Amassado no banco da estação estava este bilhete. Compartilho as palavras molhadas com alguns poucos,para que sintam a madeira do banco da estação sob si,vejam as mãos de quem segurou a caneta e os olhos que choraram copiosamente.
Há tanto tempo não te vejo. Já nem me lembro do teu rosto inteiro. Somente recortes, como a minha poesia de rimas curtas, tão curtas que de tanta negligência faleceu. A poesia que já não escrevo é teu rosto triste e distante. A tristeza partiu naquele trem que ansiavas pegar e que nem mesmo sei se pegaste, pois não tive mais notícias suas, nem por carta ou recado.
Somos distantes hoje e confesso que isso não me magoa tanto quanto antes. Se pudesse ouvir me saberia, sim... Sou feliz. Feliz como jamais pensei que seria diante de tua ausência. Obrigada por partir. Tua fraqueza já não me perturba, tua insônia já não me preocupa. Se fosse embora para um longínquo lugar e nada avisasse em "outdoors" espalhados pela Mundurucus, nenhum resquício de saudade existiria.
O sorriso de tua última foto é uma fachada para tuas angústias e, a cada dia, mais pessoas te descobrem e te derrotam no teu próprio jogo de azar. Não ganhei nem perdi no teu jogo, apenas abandonei a mesa por falta de um bom desafio. Os teus segredos já não segredam e teus olhos já não escondem teus medos.
O tempo passa correndo. Talvez nos encontremos em alguma esquina ou em outra estação.
Eis minha carta morta de saudade para um alguém que passou e foi.