Saudade em Dó menor
Nessa noite chuvosa me obrigo a lembrar,
Com o peito cheio de lembranças dolorosas,
Do tempo em que estudamos música juntos,
Meus ouvidos ainda contemplam aquela voz rouca,
Aquela que mente, sendo tão doce em palavras,
Palavras que se entrelaçam formando melodias bonitas,
Porém óbvias demais para meus ouvidos absolutos,
Sempre ouço tais sons,
Cansam me ao limite de exaustão,
Agudos e graves se revezam num dançar de notas,
Se misturando à rouquidão da voz boêmia,
Um gole de cerveja piora a dicção,
Tornando as palavras moles e sem sentido,
Tento encontrar conforto nesses acordes menores tristes,
Que roubam minha alegria e juventude,
Em cada compasso dessa harmonia torta,
O soar de notas se torna a cada dia uma música maldita,
Cheia das lembranças que queria apagar,
Suas mãos calejadas pelas cordas de nylon,
Que por muitas vezes tocaram me como um instrumento delicado,
Que me fez emitir sons inigualáveis,
Sons sussurrados, gemidos bem afinados,
Estas mesmas mãos hoje não tocam mais,
Não me tocam mais,
São vazias e enrugadas,
Pouco habilidosas, cansadas
Este maestro não é mais o mesmo,
Quis aprender todos os instrumentos perfeitamente,
Piada, somos eternos aprendizes,
O instrumento que mais admirava tocar,
Hoje está esquecido num canto escuro,
Empoeirado com teias de aranha,
Um objeto de decoração,
Silenciado pelo egoísmo,
Hoje não emite som qualquer,
Só guarda saudade e ressentimento,
Nessa partitura da minha vida,
Encontro-me em pausas gigantescas,
Esperando por minha vez de tocar, libertando meu som,
Ser tocada por tuas mãos grandes,
Como antes!
Cris