Eulogia (Título Provisório)
Passei os últimos meses escolhendo palavras para este momento, mas não obtive o sucesso que eu esperava. Quanto mais eu aprendia sobre palavras, mais complicada se tornava minha tarefa de expressar o que existe dentro de mim. Os sentimentos são vários, assim como as palavras, mas descobri que nenhuma combinação de vocábulos pode explanar plenamente o que eu preciso externar. Mesmo assim, esta é mais uma tentativa (sei que em vão) de dizer tudo que meu coração, mente e alma necessitam.
Abster-me-ei de complicações na hora de explicar, ou de tentar, pois não vejo sentido em tornar mais difícil a compreensão de algo que eu mesmo não compreendo. Mas, prazer, este sou eu. Sou o passado tornado presente. Sou a materialização do vazio do futuro. Sou vazio por dentro, por fora. Sou um nada cheio de tudo; e de todos. Sou os resquícios da boa pessoa que um dia eu fui. Não sou mais bom. Sou bom em viver nas sombras, em esconder lágrimas, em fingir sorrisos... Mas não sou bom o suficiente pra ser humano. Pra ser eu.
Tudo que fui na minha vida, tudo que fui de bom, pelo menos, está espalhado nas mãos das pessoas que ficaram pra trás, mas seguiram adiante. Eu continuei aqui, mas fiquei pra trás. Eu perdi. Aprendi que é possível viver sem amor, sem alegria, sem felicidade, sem companhia, sem ninguém. É possível. Não vale a pena, é inútil, mas é possível. E aprendi isso tudo da pior forma que se pode imaginar: vivenciando tudo isso.
Ignorantes disseram e dirão que foi tudo escolha minha, que gosto de sofrer. Balela. Não, eu não gosto de sofrer, não nasci ambicionando ser nenhum tipo de mártir, afinal, de que valeria uma vida assim? Exatamente, não valeria nada. Assim como não vale a minha. E quem liga? Quem se importa quando não existe ninguém? A resposta, obviamente, é “ninguém”.
Embora não tenha sido escolha minha viver uma vida de miséria e infelicidade, descobri algo ainda pior: eu (além de não poder) não sei (ou saberia) viver de outra forma. Estes anos na escuridão me tornaram acostumado às sombras . Quero deixar claro que não estou cogitando a possibilidade de ser feliz (já explicitei sobre essa impossibilidade), mas, para lhe dar a bênção (ou maldição) do entendimento sobre o que sou, faço uma analogia: assim como um peixe não vive fora d’água, eu não vivo fora da dor. É como se um estivesse intrinsecamente ligado ao outro, de forma que é impossível a existência um apenas.
Não, não quero que pense que me orgulho disso. Nem quero que achem que isso é bom porque acabo transformando minha dor em textos. Isto não é um texto literário, não é um conto, uma fábula, não é arte. É desabafo. E se estou colocando letras numa tela, ou numa folha, dependendo de como você está lendo, é porque eu não tenho ninguém na minha vida que possa ouvir estas palavras da minha boca.
Este desabafo não acaba aqui. Pois a dor não tem fim. A menos que eu morra (ah, tomara, que meu sonho se realize!), este “texto” será terminado em breve.
Enquanto isso, leia e releia o que escrevi. E tente se imaginar no meu lugar.
Dói, não dói?
Obrigado.