Saudade
Desgraça mesmo é perder o ritmo
escorregar na barra da saia
da sobriedade ínfima
que restou da alma
Cavar o fosso com as próprias unhas
na ilusão doce e demente
que há, lá, colo quente
a esperar pela gente
Almoçar o passado malpassado
e vomitar o presente indigesto
dormir com a azia-saudade
isso que é desgraça! maldade!
E acordar sabendo que
há apenas um lapso
entre a vida e a morte?
Há, por acaso, para isso remédio?
além de deixar que tal lapso
se esvaia, rubro, em profundo corte?