Escrever para quê?

Já faz um tempo que não escrevo.

Não por falta de inspiração,

Por excesso dela.

O mundo tem se movido,

Tem girado, andado, corrido, viajado,

E eu aqui, parado.

Por diversas vezes pensei no que escrever,

Como escrever,

Onde escrever.

Mas,

Por que escrever?

É de forma fúnebre que constato:

Não há razão.

Este mar de estagnação já me tomou.

Escrever para quê?

Para falar das belas vozes que me rodeiam?

Do amor que não possuo?

Da tristeza que me possui?

Relatar minhas incertezas?

Meus abismos?

Meus amores?

Meus desamores?

Frustações?

Retratar minha loucura?

Não.

Não mais.

É chegada a hora do desejo,

Do fazer, do agir, do sentir.

Bem, este mundo está em movimento:

E eu estou aqui, parado.

Não estou dizendo que é errado,

Que é um problema,

Que é um desagrado.

Mas é,

Ainda assim.

Estou acomodado ao paradoxo.

Renegada a felicidade,

Estou muito feliz com minha tristeza,

Minha solidão me faz companhia tão bem,

E mesmo assim para quê?

Para quê escrever?

Escrita serve para se valer,

Para compartilhar,

Para amar,

Escrita serve para mostrar ao mundo,

O que há de novo,

O que há de velho,

O que há em ti.

Mas e quando nada há?

O que fazer?

Não escrever, ora bolas.

Estou cansado de ser assim,

De viver essa vidinha depressiva,

Solitária e fortinha.

Onde tudo é belo, em sua loucura.

Onde tudo é expressivo, em seu silêncio.

Onde tudo é meu, em minha própria limitação.

Sei o quão doloroso é, mas,

Talvez, tenha chegado a hora de parar de escrever.

Escrever para quê?

Se posso viver!

Se posso sentir!

Se posso esquecer!

Se posso escrever!

Se posso viver!

Não há espaço para essa estranha manifestação insana,

Quando o mundo me espera.

Quando há de tudo por fora

Quando desejo a este mundo conhecer:

Poderia você esquecer?

Bem, eu não sei o porquê,

Mas eu não quero mais escrever.

Escrever para quê?

Quem sabe é você.