DESABAFO LITERÁRIO

Depois de ler um texto enorme (esse aqui: http://sibila.com.br/critica/consideracoes-sobre-alguma-poesia-contemporanea/5046 ), pelo menos achei algo a concordar:

"Para Cabral, a contemporaneidade estava dividida entre dois modelos de poesia, dois tipos de poeta: o “inspirado” e o “construtivo”. A radicalização de qualquer desses tipos, embora Cabral tomasse o partido dos construtivos, conduzia ao isolamento e à exclusão do público."

Sinceramente, eu não gostava dele, nunca gostei, me agrado de um poema perdido, tipo o "Morte e Vida Severina" (não por acaso descobri que ele não gostava desse poema mais tarde), mas por essa frase, se realmente é dele, ganhou um pouco do meu respeito. Essa é uma verdade que teimam em esconder e que se estende à prosa também. Uma das grandes verdades, na minha opinião. E só pode ser assim, porque apesar de buscarmos um equilíbrio, ninguém é perfeito. Queria, porém, não ter perdido tanto tempo lendo o artigo só pra descobrir isso, rs. Mas talvez tenha valido a pena descobrir que logo um poeta que louvam como o "oh, cerebral", o "oh, exemplo de consciência de linguagem/transpiração/morte da inspiração" pensava assim. Finalmente achei algo em que concordamos, apesar de eu tomar o outro partido, dos "inspirados". Sou mais inspiração que transpiração, e espero nunca deixar de ser. Um não é melhor que o outro, apesar do que querem forçar alguns sabichões, são dois tipos de escritores, apenas, assim como existem pessoas racionais e passionais. O racional ainda tem emoção, o passional ainda tem razão, ambos são pessoas, e se elas resolvem escrever, escrevem de jeitos diferentes, mas ambos escrevem, e podem escrever coisas boas, sabe, e... bem, não é essa a questão que me motivou a escrever esse texto. Espero também não ter desrespeitado o outro tipo de escritor, só estou escrevendo isso porque preciso botar pra fora algumas coisas que me deixaram de saco cheio esses dias. Leiam se quiserem, e se não, façam algo que lhes interesse mais. Esse texto enorme é só para dizer que simplesmente estou cansado desse monte de teorias. Sinceramente cansado desse monte de teorias e discussões e etc. e dessa briga toda por coisas tão... abstratas? Não sei nem que palavra usar para defini-las. Quanto mais leio teorias e discussões sobre literatura, "o que é literatura", "o que é poesia", "o que é boa poesia", "como escrever boa poesia", "qual a função da literatura", debates sobre poesia vs prosa, "como escrever um bom romance", "porque ler os clássicos", "quais autores você deve ler", e enfim, a lista de tópicos é enorme, o que quero dizer é: quanto mais leio essas coisas, menos sinto vontade de ler essas coisas. Mais me convenço que eu deveria ler menos essas coisas. E vez ou outra ainda insisto, por imposição da faculdade ou por uma curiosidade insana, ou talvez uma esperança louca de que haja realmente algo de útil ali escrito. Que bom que encontro num texto ou outro algo, como achei dessa vez. No geral, porém, que me desculpem os que gostam dessas coisas se lhes for ofensivo, mas leio a grande maioria delas e fico com aquela sensação de "ah, legal, mas e daí?". E se é pra ler e ficar com essa sensação de "e daí", acabo preferindo ter a tal sensação de "e daí" lendo histórias, lendo prosa, lendo verso, lendo alguma coisa diferente que não seja teoria sobre coisas que devem ou não serem lidas. E se eu salvo alguma coisa de útil dessa coisa toda, talvez eu salve alguns exercícios do "ABC da literatura", do Ezra Pound, que podem ajudar a estimular a criatividade e mostrar uma possibilidade pra escrever coisas, e um mínimo pedaço que ele fala que pra saber o que é poesia devemos mandar a teoria se lascar e ler os poetas. E salvo também a seleção de poemas do final do livro. Não por ser um cânone, por serem "os melhores", e sim simplesmente por serem poemas e eu ter gostado de alguns. Eu não descobri o que diabos é a tal da poesia lendo os poemas, mas pelo menos me diverti e fui feliz, achei coisas legais e vez por outra me perguntei "legal isso, será que consigo fazer algo do tipo?" e fui tentar. Peço desculpas se estou ofendendo alguém que passou a vida toda lendo teorias e mais teorias e sabe muito sobre teorias, que gosta de ler e escrever essas teorias, mas acredito cada vez mais que a única coisa que se salva nas teorias são as partes em que eles falam para ler, seja lá o que for. Sou contra, porém, aquela história de "leia tal livro, por causa disso". Pra mim, seria melhor se fosse "leia o tal livro, se a sinopse/o tema abordado te agradar". Leia o tal poeta, se você leu um poema e gostou. Minha única teoria é que essa parafernália toda sobre como escrever e o que deve ser lido apenas afasta os leitores. Minha única teoria é que não existe "bom leitor" nem "leitor preguiçoso" ou "gente que odeia ler". Existe gente que nunca encontrou um livro com o qual se identificasse, ou poeta com o qual se identificasse, e por achar que todos escritores (quando falo escritores incluo os poetas) são iguais àqueles que descem a força na escola, se afastam de todos. Por que graças a esse amontoado de teoria há preocupação mais em descobrir "o que é uma boa leitura" do que em descobrir que leitura agrada que pessoa. Quer que o seu aluno ou o seu amigo aprenda a ler "bons autores"? Faça ele descobrir quais os "bons autores" DELE. Mostre a ele, se conseguir, coisas que tenham a ver com coisas que ele gostam. E deixe ele ser feliz lendo o que ele quiser. Apesar do que alguns dão a entender, não é um pecado ler "qualquer coisa". É uma virtude ler e se divertir lendo, seja lá com o que for. Quer que o escritor novato se aprimore? Simples: deixe ele ler o que ele quiser, se inspirar em quem quiser, e escrever o que der na telha. No máximo, apresente outros que falaram do mesmo tema ou de jeitos parecidos com os dele. No máximo, dê sua sincera opinião sobre ter gostado ou não, ter achado ou não confuso, e dê reais sugestões simples de como ele poderia melhorar essas coisas. Só um "ah, ajeita as vírgulas", e não um tratado de gramática, sabe. Simples assim. Não é um pecado não escrever nada inovador, ou de acordo com os manuais, como alguns querem fazer parecer. E se não quer comentar porque achou ridículo, fique calado. Mas por favor, pelo amor de qualquer coisa que você ame, não queira que ele engula tudo para necessariamente imitá-los ou subvertê-los, nem teorias e teorias sobre o que deveria ser, antes de tudo, uma fonte de prazer e realização, uma fonte de satisfação. Apenas mostre e deixe ele ler se quiser, e fazer o que quiser da leitura que fez. E me desculpe novamente se isso tudo for extremamente ofensivo, mas se foi, serei um pouco mais: pare de ler essas maluquices que as pessoas falam sobre livros e vá ler os diabos dos livros! Na minha opinião (que não vale nada e acata quem quiser), é mais divertido e mais proveitoso para resolver todos os dilemas, ou ao menos, pensar sobre eles. E como já perdi tempo demais escrevendo essa "teoria", desejo uma boa tarde à todos, boas leituras (seja lá quais forem), felicidades. Fui escrever, que é melhor pra mim de que ficar me questionando se isso vai ou não mudar o mundo (afinal, se por acaso for, como vou sem ter escrito nada, e se não for, como vou me divertir nesse mundo que não irá mudar de jeito nenhum?).

Pra vocês que se interessaram em ler (ou perderam seu tempo lendo) até aqui, deixo um P.S. da literatura que está mais do que cansada de ouvir mais de 2 mil anos de julgamentos.

DESABAFO LITERÁRIO

que importa se sou boa, ruim,

mercadológica, rala ou genial,

cerebral ou visceral,

intuitiva ou meticulosamente construída??

realmente importa como devo ser lida,

qual a minha função, e o que diabos

é a desgraçada da poesia?

parem de me julgar e me aceitem como sou,

parem de me julgar e me dêem a atenção que sempre quis.

nunca quis tratados.

nunca quis críticos, teóricos, guerras e mortes por minha causa.

tudo que quis, um dia, foi que você me pegasse em suas mãos

e me lesse. e lesse minha alma. e lesse a sua alma refletida em mim.

e lesse sobre a vida, o universo e tudo mais, a vida, a morte, o amor,

a graça, a desgraça, o nada, e o resto.

tudo que quis foi te mostrar tudo isso.

e quanto mais eu tento, mais você me julga.

e quanto mais me julga, mais eu vou morrendo.

cansei de julgamentos.

espero, ao menos, que quando eu for só pó

o mundo me absorva como nutrição

pra continuar vivendo.

Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 04/03/2014
Código do texto: T4715059
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