Deixar-me

Eu queria ser outra pessoa. Qualquer um que fosse já estaria bom, contanto que pudesse escapar de vez dessa minha pele, minha voz, minha sina. Queria sentir as coisas de outra maneira, vê-las, percebê-las e tocá-las, tocá-las de verdade, nem que só uma vez. Deixar de querer, de olhar e sonhar com as vidas alheias, os sabores dessas alegrias todas, dessa gente toda, gente bonita, gente infinita. Pelo menos aos meus olhos elas são. São todas eternas, incríveis, inatingíveis. Eu acredito que o amor possa se manifestar em muitas maneiras diferentes, e por cada um de vocês, o sinto. O absorvo e jamais expresso, em cada caso, uma loucura, uma vergonha, uma vontade. E já não sei mais o que fazer com esses anseios malditos, esse peso todo que já se agarrou em mim. O meu reflexo já se tornou algo doentio, insuportável, inaceitável. Eu não me quero mais, de jeito nenhum. Quero abandonar esse nome, essa cara, essa mente vazia, estúpida, sem uso algum. Quero e preciso renascer, disso tenho certeza. Renascer com outro semblante, outro sorriso, outras chances de acertar algo no meu caminho. Acertar nem que seja uma vez só com uma pessoa, fazer direito, ser alguém que valha a pena. Que valha para ti, para mim mesma, para quem cruzar um passo meu, me der essa alegria de pertencer a alguém, de cuidar e ser, quem diria, cuidada. É isso, no fim das contas - me rendo a esse mundo de que sempre fugi, tentei despistar e não dever nada. Eu devo sim, devo muito: devo todo o amor do mundo, todo o amor que cabe em mim.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 26/02/2014
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