Podre
Sempre quis que alguém escrevesse algo pra mim;
Sempre desejei bem lá no fundo ler aquelas palavras bonitas e saber que eram pra mim, só pra mim.
Mas as palavras escritas aqui, ou em qualquer lugar são vazias como quem as escreve.
O sentido delas é iludir quem as lê,
Dar falsas esperanças à quem as lê.
Quando eu era criança eu não sabia porque eu era diferente;
Mas a diferença entre eu e os outros é a minha indiferença;
O meu hábito de ser nostálgica;
A minha mania de dissimular meu humor;
E mostrar minha apatia apenas nessas palavras vazias.
Há muito venho me ludibriando tentando parar de escrever.
Agora eu sei que é só assim que eu me sinto viva;
Que só aqui posso existir de verdade.
Não fingir estar, estando em outra dimensão, como vivo fazendo.
Aqui eu estou; Com o corpo, com a mente, e se assim posso dizer, com o coração.
Inteira, viva e, talvez, menos infeliz do que o habitual.
Não o fragmento de pessoa que eu costumo ser;
Aquele ser enigmático que poucos desejam conhecer,
Mas nenhum deles parou pra perceber que sou uma casca com um enorme espaço vácuo por dentro.
Sim, sou podre. Valho bem menos do que o prato de comida que eu como diariamente ou as fezes do fim do dia.
Não mereço palavras ou qualquer tipo de afeto;
Além disso, não quero, não preciso.
Acho que o único sentimento nobre e estúpido que me restou além do amor foi a empatia.
O meu péssimo jeito de sofrer com o sofrimento alheio,
De me importar demais em magoar e esquecer que me magoou assim.
Um dia eu mudo, ou então dissimulo mais esse sentimento;
Faço tudo virar cinza, mudo meu mundo de cor.
Pois se eu sou podre por não saber sentir,
Imagina você que não sabe o que é amor.